Efeitos da Desvalorização do Câmbio no Brasil
5 de agosto de 2015
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: aumento das exportações, movimento de turismo, redução das importações, tendência à estabilização. | 2 Comentários »
Ainda que os efeitos das desvalorizações de câmbio, em torno de 25% neste ano, como vêm ocorrendo recentemente no Brasil, costumem provocar resultados depois de um razoável tempo, os primeiros sinais que já estão sendo registrados são promissores. Um artigo publicado pelo Valor Econômico cuida de parte das mudanças.
Um gráfico que ilustra matéria publicada no Valor Econômico
O artigo elaborado por Denise Neumann, Camila Veras Mota e Robson Sales informam sobre as primeiras reduções das importações de alguns produtos, bem como o aumento da exportação de outros, permitindo um pequeno aumento da produção brasileira, ainda sobre produtos de menor impacto e também influenciado por outros fatores, como a redução do nível de atividade no Brasil. Já existe uma tendência para um superávit na balança comercial.
Ainda assim, como todos sabem, os produtos importados estão se tornando mais caros ao mesmo tempo em que as exportações já estão gerando mais recursos em reais, compensando alguns exportadores de produtos manufaturados. Também estão ocorrendo um ligeiro aumento da produção local para atender as substituições das importações antes efetuadas.
Com um tempo maior para estes ajustamentos, muitas exportações que estão se tornando competitivas no exterior tendem a contar com aumentos da produção brasileira. Mesmo matérias-primas e alguns equipamentos que eram importados passam a contar com a competitividade dos produtos nacionais, começando pelos mais simples que envolvem menos tecnologias. No momento, está se utilizando a capacidade ociosa, mas devem provocar com o tempo o aumento da produção.
Outro efeito muito importante decorre do turismo. Com a desvalorização e notadamente a incerteza sobre a evolução do dólar no futuro próximo, os gastos com viagens para o exterior estão sofrendo reduções, ao mesmo tempo em que o turismo interno tende a aumentar. Também a vinda de turistas do exterior dever ter um aumento, pois o custo no Brasil deixa de ser elevado para eles.
Lamentavelmente, este ajustamento acaba ampliando as pressões inflacionárias a curto prazo com o aumento dos preços dos produtos importados, como dos produtos exportados. Há, na realidade, um corte no salário real, reduzindo relativamente a capacidade de compra dos consumidores brasileiros.
Se estas medidas forem complementadas por outras, as distorções que ocorriam no Brasil com o estímulo ao consumo de produtos importados tendem a terminar. Sem que o setor externo se torne superavitário, acaba se estimulando a criação de emprego no exterior, ao mesmo tempo em que se corta o emprego local.
Espera-se que a continuidade deste processo acabe corrigindo, com alguns sacrifícios, a distorção fundamental que já vinha ocorrendo deste as gestões do governo Fernando Henrique Cardoso. O Brasil perdeu a sua participação de exportação no mundo, ao mesmo tempo em que a da importação veio se elevando, sacrificando a indústria nacional. Espera-se que as autoridades brasileiras tenham plena consciência destas mudanças necessárias, que devem ser perseguidas de forma permanente.
Outro fator muito importante nestas relações econômicas com o exterior é o fluxo financeiro internacional. Na medida em que os juros locais ficam elevados, acaba se provocando uma tendência ao influxo. No momento, ele está contido pela preferência à segurança, mas pode se inverter, dependendo das diferenças dos juros internos e externos.
Só podemos esperar que isso traga bons resultados ao Brasil!
Caro Boris,
O câmbio ajustado é uma das necessidades básicas, mas para que o Brasil venha se beneficiar do aumento de suas exportações, há que se tomar um conjunto de medidas que ajude a tornar seus produtos industriais competitivos no mundo. São melhorias na infraestrutura, mecanismos de isenções efetivas dos tributos para a exportação, juros mais competitivos para o comércio externo, e todos os itens que se estão englobados no que se chama custo Brasil, notadamente os relacionados com os recursos humanos.
Paulo YOkota
Paulo Yokota