The Economist Analisa o Caso da Odebrecht
21 de agosto de 2015
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: as soluções indispensáveis., o histórico de sua formação, quais as circunstâncias que a induziram para as situações pelas quais está sendo acusada, seus valores e princípios, um longo artigo do The Economist sobre a Odebrecht
O artigo informa sobre o prestígio internacional que tinha sido alcançado pelo grupo Odebrecht, expresso por muitos organismos, com princípios e valores de inspiração luterana. Agora é acusado de irregularidades que nega, mas a sua dimensão e influência na economia brasileira exige soluções como as que são possíveis nos Estados Unidos, separando corruptos, pagamentos de multas, mas salvaguarda seus aspectos positivos.
Conheço o grupo Odebrecht há muitas décadas, desde quando era comandada por Norberto Odebrecht, que o formou na versão atual em 1940, sendo originária de imigrantes alemães e com sede na Bahia. Passou depois a ser comandado pelo seu filho Emilio e agora por seu neto Marcelo, que está detido pela Polícia Federal. O grupo Odebrecht entende como medida desnecessária, pois revelou a intenção de colaboração, com ele permanecendo no Brasil.
O artigo da revista The Economist informa que a empresa foi escolhida em 2010 pelo IMD, uma consagrada escola de negócios da Suíça, como a melhor empresa familiar do mundo. McKinsey, uma conhecida consultoria norte-americana, ressaltou os princípios e os valores de origem luterana que ajudaram o conglomerado a prosperar, tornando-o a mais importante empresa brasileira no mundo, atuando em muitos países, inclusive desenvolvidos como os Estados Unidos e Europa.
O grupo emprega 181 mil pessoas em 21 países, atuando não somente na construção pesada como na petroquímica e até na silvicultura, cuidando da preparação dos seus funcionários dentro dos valores e princípios que foram consubstanciados por Norberto Odebrecht em alguns livros, segundo a revista. O grupo está sendo acusado de ter contado com a colaboração do ex-presidente Lula da Silva para obter encomendas de obras em países estrangeiros, quando os recursos, como os financiamentos do BNDES, tinham o objetivo de atender os fornecimentos do Brasil, o que acontece com muitos países desenvolvidos. O estranho seria que estas personalidades defendessem interesses de empresas de outros países.
Certamente, as descobertas do pré-sal entusiasmaram muitas autoridades brasileiras ainda no período em que o custo do petróleo estava elevado, chegando em torno de US$ 110 por barril, quando hoje está abaixo de US$ 50. Volumosas encomendas teriam que ser feitas de plataformas, sondas, navios e outros equipamentos sofisticados, esperando que parte substancial fosse fornecida por empresas instaladas no Brasil, com elevada parcela de componentes locais. Certamente, havia necessidade do engajamento das grandes empresas de construção pesada, que são poucas, inclusive a Odebrecht. Pareceria estranho que as autoridades, nem sempre preparadas para programas gigantescos, não desejassem organizar estas volumosas encomendas, que eram consideradas urgentes, certamente com objetivos que escapavam da capacidade das empresas localizadas no Brasil.
Se houve irregularidades e os seus indícios são fortes, mas ainda não foram julgados em suas instâncias finais, e pelo que se conhece da legislação brasileira não pode haver punições antecipadas. Muitas delas decorrentes de crimes apontadas por delações premiadas conseguidas com pressões psicológicas de longas prisões preventivas, alguma de criminosos confessos e reincidentes.
Se tudo for comprovado, as empresas envolvidas e os corruptos terão que ser punidos, em alguns casos com multas elevadas, o que pode ser feito por acordos. Mas, parece indispensável que as partes boas das empresas devam ser preservadas, pelo interesse da economia nacional, com instituições como os acordos de leniência, onde o exemplo dos Estados Unidos está mais consagrado. Mas precisam cobrir todos os riscos, pois nenhum grupo pode aceitar com contínuos processos de possíveis irregularidades por longos períodos, o que também prejudicaria o Brasil, afastando os financiadores internacionais. Há que se aperfeiçoar o que já existe, pois a complexidade brasileira ainda dá espaço para muitas incertezas, que em nada contribuem para a volta de confiança do setor privado nas ações governamentais, crucial para a retomada do desenvolvimento brasileiro.
O que parece desejável é que muitos outros grupos brasileiros se tornem tão multinacionais como a Odebrecht para evitar riscos desnecessários nos períodos de baixos investimentos, como no Brasil, notadamente em projetos de grandes magnitudes. A diversificação dos riscos sempre é uma medida recomendável.