Controvérsias Sobre o Poder Militar Japonês
17 de setembro de 2015
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias, Política | Tags: as necessidades do Japão, considerações no Foreign Affairs., os dilemas dos japoneses, tumulto na Câmara Alta do Japão, uma população pacifista
O governo Shinzo Abe está propondo que o atual Sistema de Autodefesa do Japão passe a contar com a possibilidade de utilização de forças militares em regiões distantes daquele país e parece indispensável que se considerem muitos argumentos para uma decisão tão delicada.
Até conflitos físicos ocorreram na Comissão da Câmara Alta do Japão que aprovou a ampliação das funções do Sistema de Autodefesa do Japão, como publicado em todos os jornais japoneses e alguns internacionais
O conceito de que um país que almeja ser realmente independente precisa contar com meios próprios para garantir esta situação parece pacífico. Atualmente e depois da derrota na Segunda Guerra Mundial, o Japão conta com uma aliança com os Estados Unidos que garante a sua segurança externa, cuja possibilidade está se enfraquecendo, pois os norte-americanos não contam com recursos suficientes para continuar como a polícia do mundo, necessitando de ajudas de outros países aliados, onde o Japão é importante.
O assunto se torna mais delicado com a ascensão militar da China e o Japão enfrentando divergências sobre disputas de ilhas e outros problemas, notadamente com seus vizinhos chineses e coreanos do sul, além de continuar a manter divergências com a Rússia e a Coreia do Norte.
No entanto, um artigo publicado por Franz-Stefan Gady, importante componente do EastWest Institute, no Foreign Affairs faz uma cuidadosa e longa análise de por que o Japão é um país fortemente pacifista, e o ressurgimento do seu poder militar temido por vizinhos asiáticos não é justificável. Na realidade, o problema remonta aos posicionamentos que foram adotados ainda quando a Guerra não tinha terminado e a antropóloga Ruth Benedict elaborou um importante estudo sobre o Japão recomendando às autoridades norte-americanas a preservação da figura do Imperador, na época Hirohito, que, depois de falecido, foi denominado Showa, apesar da existência de fortes indícios de suas responsabilidades em muitos crimes de guerra que poderiam levar à sua condenação, inclusive à pena de morte como outros líderes daquele país.
Ela analisou a importância da figura do Imperador que era o símbolo mais respeitado do Japão a quem todos pagavam honrarias. A sua importância pode ser avaliada depois quando do seu pronunciamento admitindo a perda da Guerra, transmitida pelas rádios ouvidas pela população.
De forma diferente da Alemanha, com Adolf Hitler e o seu nazismo, e a Itália, onde Benito Mussolini e o seu fascismo foram condenados, todas as responsabilidades do Japão foram atribuídas aos dirigentes militares, como o primeiro-ministro Hideki Tojo e seus auxiliares militares que foram condenados à morte. O artigo informa que os simples ex-militares japoneses tinham cumprido com o seu dever sob ordens superiores e retornaram ao Japão sem receber nenhum reconhecimento da população, sendo até hostilizados pelos papéis que desempenharam.
Quando o general Douglas Mac Arhur era o Supremo Comandante das Forças Aliadas ocupando o Japão foram tomadas as medidas para respeitar o Imperador Hirohito, entendendo que assim a recuperação do Japão e o custo da ocupação seriam suavizados. Principalmente no cenário em que se organizava a Guerra Fria com a Rússia e seus aliados.
A Guerra terminou de forma trágica, com os bombardeiros atômicos sobre Hiroshima e Nagasaki, com pesadas mortes e sofrimentos de toda a população japonesa, por muitos anos. Nada mais natural que se consolidasse no Japão um forte sentimento pacifista dominante em sua população que se opõe a qualquer iniciativa para aumentar o seu poder militar, sob qualquer título.
Manifestantes japoneses diante da Dieta mesmo sob forte chuva
Segundo pesquisas efetuadas pelo governo japonês, 82% dos japoneses acham que o principal papel do Sistema de Autodefesa é o alívio dos desastres e 72,3% acreditam que este deve continuar a ser o papel para o futuro. 92% possuem uma imagem positiva deste sistema.
Mas não se pense que o atual sistema japonês é insignificante do ponto de vista militar. Durante as crises econômicas, uma parte grande da indústria pesada japonesa recebeu encomendas de equipamentos para este seu sistema de defesa, que conta com meios tecnologicamente avançados e em quantidade, a ponto de poder fornecer submarinos para outros países aliados como a Austrália.
O atual primeiro-ministro Shinzo Abe tem uma posição mais marcada pelo nacionalismo e pelo forte desejo de recuperação de sua economia, aumentando a importância internacional do Japão, sabendo que não pode contar indefinidamente com a cobertura dos Estados Unidos que podem ter prioridades diferentes. Somente 11% dos japoneses dão suporte às ideias do seu primeiro-ministro, o que o coloca numa situação difícil.
O assunto é de extrema dificuldade, mas parece que superar a atual posição pacifista do povo japonês seria extremamente difícil para qualquer governo, mesmo considerando suas conveniências geopolíticas de prazo mais longo. Mas esta posição não é unânime, havendo outras dentro da opinião pública japonesa.