Dois Artigos do The Economist Sobre o Brasil
4 de setembro de 2015
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: a atenção que o Brasil está merecendo, movimentos sociais., o orçamento e outros dados, problemas atribuídos para todos
Pelo visto, a revista The Economist atribui ao Brasil uma grande importância mundial, pois numa semana de muitos acontecimentos importantes em todo o globo, publica dois artigos com destaque sobre o que vem acontecendo no país. Um se refere ao orçamento para 2016 enviado pelo Executivo ao Congresso com um déficit de R$ 30,5 bilhões e outro sobre todas as dificuldades decorrentes da recessão que se apossa da economia brasileira.
Um dos gráficos que ilustra um dos artigos do The Economist no número do próximo fim de semana
A revista refere-se ao fim do boom das commodities e um escândalo da corrupção minando a confiança no País depois de anos de má administração da política econômica. Mas não atribui a responsabilidade somente ao governo Dilma Rousseff, mas a todas as forças que influem neste comportamento da economia brasileira.
Informa que o PIB brasileiro deve decrescer 2,3% neste ano, com o aumento do desemprego, queda do setor privado e redução do consumo, comprimindo as receitas tributárias. Um aumento das pressões inflacionárias, uma desvalorização da moeda e os investidores exigindo retornos mais elevados sobre os papéis representativos da dívida pública, tudo provocando um desastre no orçamento, acabando com o superávit fiscal que existia. Os juros pagos sobre as dívidas públicas devem chegar a 8 a 9% do PIB.
O que se pode acrescentar ao artigo é perguntar o que provocaria este quadro desolador. Certamente, uma parcela importante da responsabilidade é da presidente Dilma Rousseff e sua equipe de administração, onde ela decide tudo sobre as questões fundamentais da política econômica sem estar qualificada para tanto, contando com uma equipe governamental pouco capacitada para reduzir a máquina administrativa e seus complementos, inclusive com precário relacionamento com a classe política presente no Congresso e para resistir às pressões de gastos dos políticos em todos os segmentos, tanto no nível estadual como municipal. Neste quadro, o setor privado não tem como confiar no governo e efetuar os investimentos que deveriam sustentar o desenvolvimento da economia.
Nesta situação, o Brasil necessitaria de financiamentos para ampliar a sua dívida pública, mas enfrentará um quadro desfavorável com a possível piora do seu rating. O Brasil vinha evitando a hiperinflação com uma meta inflacionária, um câmbio flutuante e um superávit fiscal para arcar com os encargos da dívida pública. Tudo isto estaria em risco.
O ministro da Fazenda teria que conter este quadro precário com medidas recessivas, mas não conta com liberdade para adotar políticas duras, pois o voluntarismo da presidente ainda imagina ser possível reverter este quadro, quando não conta com credibilidade nem prestígio popular para tanto, pelo contrário.
As medidas para reduzir os gastos públicos não decorrem de estudos profundos, como os relacionados com a redução dos Ministérios e redução dos cargos chamados de DAS. Muitos dos gastos estão indexados, não havendo forças para promover reformas indispensáveis. As medidas de aumento das receitas tributárias não parecem racionais o suficiente para convencer os empresários como as forças políticas.
Outro gráfico que ilustra os artigos do The Economist, mostrando o decrescimento no PIB e a desvalorização do Real com relação ao US$
Uma das dificuldades básicas do Brasil é o fato de Dilma Rousseff imaginar que os contatos eventuais com os empresários e as lideranças políticas são suficientes para conseguir a cooperação deles. A atividade exige interlocutores confiáveis e com poderes, o que vem sendo conseguido parcialmente com os empresários por intermédio de sua ministra da Agricultura, Kátia Abreu, e o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Armando Monteiro Neto. Mas os instrumentos para suas ações dependem do Ministério da Fazenda, basicamente.
Na interlocução com o Congresso, o vice-presidente Michel Temer cansou de ser desautorizado pela falta de eficiência no atendimento dos acertos efetuados, deixando a tarefa ser executada por auxiliares da presidente Dilma Rousseff, que não contam com qualificações para tanto, pela absoluta falta de experiência e histórico de longos relacionamentos com as principais lideranças políticas. Entre eles, figura o ministro da Casa Civil, Aloisio Mercadante, que sofre restrições de diversas áreas.
No fundo, o governo acredita que simples pronunciamentos ou seus desejos sejam suficientes para superar os grandes desafios que se apresentam para o Brasil. Não há uma preparação adequada e os escândalos das corrupções comprometem tanto a administração pública como a capacidade do setor privado de suprir as principais necessidades brasileiras.
Reformulações muito mais profundas se fazem necessárias para que o governo possa superar parte das restrições existentes, criando condições para programas mais amplos visando criar as condições para a recuperação da economia, que só pode ser esperada para um futuro mais distante. Opções como as que cogitam de substituição atual do governo não encontram bases legais, como os que vierem a ocupar eventualmente o comando necessitarão de tempo para executar seus programas ainda inexistentes.
Os problemas aparentam ser muito mais graves do que os apontados até pelo The Economist, que costumava ser mais crítico com relação ao governo brasileiro, lamentavelmente. Mas, num prazo mais longo, mesmo num mundo globalizado com muitas dificuldades, as possibilidades brasileiras são mais promissoras.