Medidas Adicionais da Abeconomics Anunciadas
24 de setembro de 2015
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias, Política | Tags: dificuldades em todas as economias, novas medidas anunciadas por Shinzo Abe, queda do prestígio popular. | 2 Comentários »
A tendência dos analistas é sempre imaginar que os problemas enfrentados no seu país são sempre mais complexos do que os dos outros países. No Japão, apesar das muitas tentativas, não se consegue elevar a inflação e recuperar o seu crescimento econômico.
Primeiro-ministro Shinzo Abe na entrevista à imprensa
Mesmo tendo sido reeleito para o comando do seu partido LDP – Partido Liberal Democrata, mantendo-o como primeiro-ministro do Japão, as pesquisas de opinião indicam um baixo prestígio popular de Shinzo Abe, depois que forçou a aprovação da medida no sentido da ampliação das funções do SDJ – Sistema de AutoDefesa do Japão para ajudar nas missões distantes do seu país. Na tentativa de recuperar parte do seu prestígio em queda, ele anunciou algumas medidas que parecem óbvias e dificilmente ajudariam a recuperar a economia japonesa no atual cenário internacional.
Abe usa a imagem do lançamento de três flechas adicionais, mas não detalhou quais seriam as medidas de promoção do crescimento, assistência na criação de filhos para aumentar a taxa de crescimento demográfico e ampliação das instalações de repousos para os idosos. Como a entrevista foi para a imprensa, todos os jornais japoneses noticiaram seus anúncios, mesmo sem grande entusiasmo.
Uma sociedade e economia que sofre com o envelhecimento e a redução de sua população, sempre é difícil conseguir uma performance mais brilhante, ainda que o Abeconomics venha tentando promover o chamado easing monetary policy, ampliando seus meios de pagamento bem como o crédito, o que não vem conseguindo ampliar a sua recuperação, e nem uma inflação cujo alvo é de dois por cento ao ano. Provocou-se uma desvalorização do yen, mas não vem conseguindo uma significativa ampliação de sua exportação, ainda que o custo da energia esteja se reduzindo no mundo. A única coisa significativa tem sido o aumento do turismo de estrangeiros no Japão, que ajudam a ampliar a demanda de alguns produtos no seu mercado.
O seu setor agrícola perdeu expressão, as dificuldades de recuperação das áreas afetadas pelas contaminações radioativas, como na região de Fukushima, ao lado da queda da demanda de peixes e frutos do mar bem como do arroz, mostram quanto os problemas demográficos são importantes, ao mesmo tempo em que se ampliam as necessidades da previdência social. Os aumentos de impostos visando estancar o crescimento da dívida pública só foi executada parcialmente, com outras etapas ainda aguardando uma melhor oportunidade.
Tudo isto mostra que, mesmo em países de elevados níveis de renda como o Japão, o atual cenário internacional não se afigura favorável, o que recomenda cautelas nas queixas em países emergentes como o Brasil. O que o Japão vem tentando é ampliar seus investimentos em alguns países do Sudeste Asiático, evitando a ampliação de atritos com a China, a Coreia do Sul e a Rússia.
Ainda que muitos problemas sejam de natureza diferente dos enfrentados pelo Brasil, constata-se que as limitações demográficas acabam sendo graves, deixando poucas alternativas para o Japão.
Japão ainda querer crescer é assustador, um país já tão opulento, deveria focar na estabilidade, na distribuição dos ganhos já obtidos, na melhoria de vida das pessoas.
Essa necessidade de crescimento só serve para satisfazer grandes corporações cujo sistema é uma cobra que come o próprio rabo, porque é insustentável, claramente insustentável, a mania de crescer a produção, para uma demanda cada vez mais fraca, uma vez que as pessoas estão fora desse processo.
Caro Hugo Penteado,
É sempre difícil avaliar um país somente pelos conhecimento dos seus dados mais gerais. Apesar de ser considerado desenvolvido, as empresas é que estão capitalizadas, havendo idosos e muitos moradores de rua, bem como populações idosas no meio rural sendo obrigados a trabalharem até o fim de suas vidas. A aposentadoria é modesta, para forçar a população a acumularem um patrimônio para poder cuidar de sua velhice. Os trabalhadores braçais, muitos vindos do exterior ficam com as atividades mais sujas, pesadas e perigosas, e o sistema de sucessivas terceirizações dos serviços não permitem a eles boas remunerações. Acho que V. deve conhecer aquele país, passando por lá um bom tempo. Oliveira Lima nos ensinou que nos primeiros meses notam-se os aspectos positivos, mas depois vão se observando as misérias. Muitos dos seus executivos que vieram trabalhar no Brasil, preferem ficar por aqui depois de aposentados. Também muitos aposentados japoneses não conseguem se sustentar no Japão, e imigram para países como a Malásia, Indonésia, Filipinas para poderem sobreviver com suas parcas aposentadorias, entre eles até antigos embaixadores no Brasil, meus amigos. A vida é dura para todos, mas trabalhar é uma forma de realizar-se como seres humanos, mesmo com idades avançadas.
Paulo Yokota