Abastecimento de Água Para a Grande São Paulo
2 de novembro de 2015
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: diferença entre estadistas e burocratas, grandes soluções, improvisações., múltiplos aspectos
Pode ser saudosismo, mas fica-se com a impressão que no passado contava-se com grandes estadistas até para o equacionamento do abastecimento de água para a Grande São Paulo. Em torno de 1960, o professor Lucas Nogueira Garcez, da Escola Politécnica da USP, também governador do Estado de São Paulo, e a sua equipe, do qual fazia parte o engenheiro Eduardo Yassuda, secretário de obras do Estado, já apontava o grave problema que teríamos.
Professor Lucas Nogueira Garcez
No início da década dos sessenta do século passado, formou-se a CIBPU – Comissão Interestadual da Bacia Paraná Uruguai, para adaptar para o Brasil o plano do Tennessee Valley Authority que foi empregado pelo presidente Franklin D. Roosevelt como um projeto para a saída para a crise de 1929. Visava o aproveitamento integral das águas da região do Centro Sul do Brasil para a geração racional da energia elétrica, navegação fluvial, irrigação e todos os demais usos da água disponível.
O professor Lucas Nogueira Garcez, especialista em hidráulica, ajudou com alguns estudos, que já apontavam para o grave problema de abastecimento de água da metrópole que se consolidava na Grande São Paulo. Uma das propostas era estudar a utilização até da água do Vale do Ribeira, no sul do Estado, para tanto. Eram visões de longo prazo de grandes estadistas.
Hoje, o problema parece estar entregue a burocratas cujas contribuições mal se conhecem, que executam improvisos que se mostram problemáticos, pois as questões não foram estudadas tecnicamente em profundidade. Os problemas demandam obras gigantescas de décadas, que envolvem também a reutilização de todas as disponíveis com tratamentos sistemáticos, não permitindo as criminosas poluições efetuadas pelas indústrias, ocupações irregulares de terras com invasões, além das volumosas perdas até chegar aos consumidores finais.
Problemas desta natureza exigem mecanismos que permitam o exame dos problemas com horizontes longos, com investimentos de muitos anos para a sua maturação, não se podendo limitar para o tempo de gestão de um governo. Há necessidade de grandes especialistas com larga experiência no setor.
Um artigo elaborado por Ingred Fernandez e Fabricio Lopes foi publicado na Folha de S.Paulo mostrando que o sistema Cantareira começou em 1882 com os ingleses e hoje só serve como marco histórico. O atual sistema é incapaz de resolver o problema, mas não se observa nenhuma iniciativa de envergadura das autoridades do setor. Continuaremos a arrastar o problema, que tende a se tornar cada vez mais grave.
Acadêmicos, empresários, políticos precisam acordar. O tempo que estamos perdendo é irrecuperável. Necessitamos ter, no mínimo, um esboço do que fazer nas próximas décadas neste setor.