Uma Análise Sensata Sobre a África
28 de novembro de 2015
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: alimentos e a transformação da África, mais do que a agricultura., uma análise profunda de Kofi Annan e Sam Dryden no Foreign Affairs
Kofi Annan ficou conhecido no mundo pela sua atuação como secretário geral das Nações Unidas, que acrescentou ao seu conhecimento da África a experiência do que ele pode observar em todo o globo. Publica agora, com a parceria com Sam Dryden, um importante artigo no Foreign Affairs.
Pequenos produtores agrícolas estão transformando a África
O artigo começa reconhecendo que a agricultura africana tem sido o símbolo da pobreza do continente, mas que estão se observando mudanças. Um novo vasto sistema de produção de alimentos se espalha além da fazenda e a mesa, para tocar em quase todos os aspectos da vida em todas as sociedades. Irá combater a pobreza, doença e a desnutrição; criar empresas e empregos; e impulsionar as economias do continente e melhorar a sua situação comercial internacional.
Não se trata de uma mudança rápida, mas uma evolução incrementada ao longo do tempo. O artigo ressalta que a tecnologia digital é um instrumento poderoso para criar um sistema alimentar adequado às necessidades contemporâneas. Se os líderes locais aproveitarem a oportunidade, eles podem transformar a agricultura africana num poderoso motor do desenvolvimento econômico e social, com o uso intensivo dos sistemas de comunicação digital.
Mencionam cinco princípios fundamentais: a agricultura é mais do que a produção de calorias, valorizando o pequeno produtor, a participação das mulheres, qualidade dos alimentos e criação de uma economia rural próspera, protegendo o meio ambiente. Não seria um sentimentalismo, mas o reconhecimento que 80% da produção agrícola deveria ser de pequenos produtores, pois tem se exagerado nas grandes produções de escala comercial, que seriam mais eficientes. Este idealismo sadio poderia ajudar muito.
Os autores acreditam que os pequenos agricultores africanos são capazes de alimentar a população aumentando seus rendimentos com combinações de sementes adaptadas e uso de fertilizantes, mas precisam ter acesso às informações. Proporcionaria pela tecnologia digital, educação e formação como a Green Digital está provocando em casos concretos da Índia para a Etiópia, com programas pilotos em Gana, Moçambique e Tanzânia.
As mulheres fornecem a maior parte dos recursos humanos, mas por uma série de razões sua produtividade é 13 a 25% mais baixa que a dos homens. Quando elas decidem como gastar suas rendas, acabam beneficiando a todos, no que podem ser auxiliadas pela tecnologia digital.
A qualidade dos alimentos africanos é inferior a dos Estados Unidos e a sua melhoria nutricional poderia ajudar a partir das crianças. As tecnologias estão concentradas na melhoria do milho e do trigo, esquecendo-se da mandioca e do sorgo. Mas existem esperanças com as melhorias como no arroz em Gana, do milho em Zâmbia e batata doce em vários países, fortificados com vitamina A. A biofortificação promete oportunidades maiores.
Um sistema robusto de produção de alimentos necessita de serviços financeiros, sementes e fertilizantes, armazenamento, transportes, processamento e comercialização. Além das empresas, na Nigéria o governo está fornecendo sementes e fertilizantes para os pequenos agricultores. O Banco Central local com sistemas com os bancos locais conseguiu quadruplicar os empréstimos.
Ainda que a Revolução Verde entre 1950 a 1960 tenha ajudado na elevação da produtividade, prejudicou muitos solos e reduziu a biodiversidade disponível, o que pode ser corrigido pelas informações fornecidas pelo sistema digital. Na Etiópia, em 2014, lançou-se um sistema que registrou quase 6,5 milhões de chamadas, inclusive para análises dos solos. Novas organizações para os produtores estão sendo formados, e eles estão sendo certificados desde o seu ingresso inicial.
As experiências acumuladas pelos autores estão procurando ajudar de uma forma mais holística, incluindo os produtores nas soluções, usando a tecnologia digital para alcançá-los, ouvi-los, apoiá-los e organizá-los para mais uma revolução agrícola, provocando mudanças políticas, investimentos e um grande esforço para todos, desde funcionários do governo, empresários, agrônomos e produtores. Eles batalham para que os líderes africanos possam vislumbrar um continente transformado.
Esforços semelhantes precisam também ser promovidos no Brasil, principalmente para atender os pequenos agricultores, que não podem continuar a sobreviver com meras ajudas paternalistas das autoridades. É preciso aprender com o que está sendo feito de positivo em diversas partes do mundo. Afinal, as inovações tecnológicas nas comunicações, além de ajudar a mobilizar a população, podem auxiliar no aumento de suas produtividades.