Mudança do Ministro da Fazenda no Brasil
25 de dezembro de 2015
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: artigo no The Economist, centralização do comando na presidente Dilma Rousseff, entrevista de Delfim Netto na Folha de S.Paulo., os problemas são políticos, substituição de Joaquim Levy por Nelson Barbosa
Com a demissão do ministro Joaquim Levy, o ex-ministro do Planejamento Nelson Barbosa substituiu-o, mas parece que isto é irrelevante para a recuperação econômica e política do Brasil, que depende da iniciativa da presidente Dilma Rousseff para tomar as medidas ousadas e colocar o seu governo no comando do país.
Irrelevância da substituição de Joaquim Levy por Nelson Barbosa no comando do Ministério da Fazenda
O professor Delfim Netto foi questionado pela jornalista Ana Estela de Souza Pinto, da Folha de S.Paulo, sobre a substituição ocorrida no Ministério da Fazenda. Ele respondeu que isto é irrelevante, pois o atual problema brasileiro está no quadro político, onde teoricamente o governo possui uma base política de dez partidos representando 320 deputados na Câmara dos Deputados, mas não conta com nenhuma fidelidade nem dos partidos nem dos seus filiados. Ainda que ambos os ministros sejam competentes sabendo que precisam gerar um superávit fiscal, o governo não apresenta uma proposta efetiva que resulte uma confiança na expectativa de recuperação da economia e volta do comando político do país para o Executivo.
A revista The Economist publica no seu site um artigo onde observa que o governo está desmoralizado, não contando com o respaldo político e empresarial indispensável para a recuperação de sua economia. O novo ministro afirma que o governo manterá a prioridade no equilíbrio fiscal e apresentará projetos para as reformas indispensáveis, que dependem de uma determinação da presidente Dilma Rousseff que luta para evitar o seu impeachment, processo que se tudo caminhar bem só será concluído no primeiro semestre do próximo ano. A tendência é que o governo fique sem uma diretriz clara por enquanto, o que contribui tanto para a deterioração econômica como política. A impressão geral é que o país está sem comando se a Dilma Rousseff não enviar as propostas das reformas indispensáveis ao Congresso e vá para a rua visando pressionar sua difícil aprovação.
Tudo indica que o governo subestimou as dificuldades de contar com uma equipe que não se restringe aos aspectos econômicos, mas se estende pelos seu relacionamento com os grupos políticos que estão esfacelados, restringindo-se aos seus interesses localizados, sem nenhuma preocupação com o que acontece com o Brasil numa perspectiva de prazo mais longo.
Ainda que o governo tenha executado um programa como a Bolsa Família, reconhecido interna e externamente sendo relevante para a substancial mudança da distribuição de renda no país, não conseguiu criar uma perspectiva de sua sustentabilidade ao longo dos próximos anos. A presidente Dilma Rousseff não conta com o mesmo carisma do seu antecessor. Não conseguiu entender como funciona a economia e a política montando uma equipe capaz de administrar o país, sendo tragada por uma acirrada campanha de combate à corrupção na qual não consegue crédito, pelo envolvimento de segmentos como a Petrobras que deveriam estar sob seu comando direto.
A imagem que tentou consolidar de ser uma boa gestora não encontra respaldo na realidade. A superficialidade de suas ações nas montagens de sua equipe em setores fundamentais para o governo e seu desempenho acaba transmitindo a impressão de não contar com qualificações indispensáveis, não possuindo sequer o carisma de sua imagem popular. Acaba se generalizando a impressão é que o país terá de enfrentar longos períodos de sacrifícios, sem que se saiba para quais finalidades.
Se ela for capaz de tomar iniciativas públicas corajosas além de enviar as propostas para as reformas para o Congresso, pode ocorrer um verdadeiro milagre na reversão das expectativas, ainda que isto seja difícil. Aí está o caso da Madre Tereza de Calcutá para comprovar que fenômenos inexplicáveis até pela ciência acabam acontecendo, o que é mais possível quando são problemas sociais e políticos que contam com aspectos psicossociais importantes, como das expectativas.