Os Problemas da Economia Chinesa e suas Consequências
7 de janeiro de 2016
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: dificuldades, dificuldades de ajustamento, intervenções governamentais, reações dos investidores
O controle de uma desaceleração de uma economia como a chinesa apresenta complexidades difíceis de serem administradas, quando reformas não foram efetuadas atendendo as ansiedades do mercado.
As bolsas chinesas caíram no limite de 7% por dois dias seguidos
Ainda que as autoridades chinesas estejam adquirindo algumas ações em volumes consideráveis, intervindo de forma drástica para evitar um desastre, as bolsas chinesas caíram por dois dias seguidos no limite de 7%. O ajustamento para um pouso suave da economia chinesa está cada vez mais complexo, pois, apesar das declarações de que pretendiam seguir as tendências determinadas pelo mercado, intervenções oficiais acabaram sendo necessárias, com suas consequências se espalhando pelo mundo.
Os investidores chineses pensam nos seus interesses individuais e está ocorrendo um comportamento de manada, algo como um “salve-se quem puder”, que se observa na China como nos mercados onde a população chinesa atua no exterior, sempre com grande desconfiança na ação governamental. Muitos chineses sempre tiveram restrições aos governos, tanto por efetuarem guerras que tomavam seus patrimônios como cobrando impostos pesados sobre suas rendas.
Como o governo Xi Jinping conseguiu concentrar o poder como nenhum outro, num período curto, imaginava-se que suas intervenções poderiam surtir efeito. No entanto, com a melhoria do nível de bem-estar da população por décadas, elevou-se a aspiração por mais liberdades, quer do ponto de vista político como econômico, onde as intervenções não são bem recebidas.
Na realidade, tanto a economia necessita de mais mercado, como a descentralização política em direção à democracia terá que ser acelerada para restabelecer a confiança da população, que não é fácil de ser recuperada. Numa economia gigantesca com todas as suas complexidades, um pouso suave acabou se tornando muito difícil. Depois de um longo período de crescimento elevado, tentar manter um crescimento em torno de 6,5% ao ano tornou-se muito complicado.
Como a economia chinesa veio influindo fortemente a economia global nas últimas décadas, os efeitos deletérios se espalham principalmente sobre as economias emergentes como a brasileira, que fornece minérios e produtos agropecuários em grande quantidade. Agora, as flutuações se tornam inevitáveis, e os benefícios dos últimos anos parece que terão que ser devolvidos. Mas também se afetam economias desenvolvidas como a do Japão, seu principal parceiro comercial, bem como europeus e norte-americanos, que mantêm volumes expressivos de intercâmbio, notadamente de componentes para suas indústrias.
Muitos investimentos foram efetuados na China, procurando aproveitar os seus recursos humanos baratos, que já se elevaram. Outros países vizinhos asiáticos sofrerão também suas consequências, lamentavelmente.
Mas o povo chinês tem uma longa história e profunda cultura para encontrar os caminhos para a sua recuperação, mas ela exige grandes reformas e provocarão fortes flutuações. Não se pode forçar o crescimento por períodos tão longos sem que outros aspectos sociais e políticos também sejam acomodados.
São desafios dignos de um grande país como a China, e como afirmava Joseph Needham, que formou em Cambridge o maior acervo de documentos sobre a China, foi o país que mais inovações trouxe para a humanidade ao longo de sua história. Também os atuais desafios serão certamente superados.