O Day After de um Possível Impeachment
31 de março de 2016
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: fragmentação partidária, insuficiência das considerações posteriores a uma eventualidade de impeachment, os manifestantes populares e seus entusiasmos, reformas econômicas indispensáveis
O entusiasmo popular existente com a possibilidade de um impeachment da presidente Dilma Rousseff não envolve uma séria avaliação das medidas indispensáveis para a recuperação do Brasil, que exigirá grandes sacrifícios. Além da fragmentação partidária, poucos parecem estar pensando seriamente nas reformas indispensáveis que exigiriam aumentos dos impostos e reduções substanciais das despesas públicas, inclusive com aposentadorias e gastos sociais como as relacionadas com a saúde, educação e assistência social.
Muitos que costumavam preservar suas posições estão agora expressando publicamente suas opiniões. Os magistrados, no passado, somente falavam nos autos, mas agora acabam dando entrevistas à imprensa, que, mesmo esclarecedoras, acabam revelando suas orientações que são relevantes nas decisões.
O ministro Marco Aurélio Mello tem feito pronunciamentos sensatos com a profundidade desejada. Ele informa que o impeachment não resolve os problemas brasileiros e que, além de um novo quadro político partidário, necessitará de reformas profundas que não apresentam as condições para atender às reivindicações populares num prazo razoável. A frustração, ocorrendo ou não o impeachment, poderá ser profunda.
Certamente, haverá necessidade de elevação da carga tributária, assim como a previdência terá de ser restringida, dado o aumento da população aposentada, com menos pessoas em idade de contribuição para arcar com os encargos. Muitos dos benefícios que estão sendo ampliados terão de sofrer uma forte moderação.
As necessidades sociais como as de saúde, educação e assistência social estão em alta, não havendo recursos para atendê-las face estas despesas. Não existe milagre em economia. Mesmo que as expectativas possam atuar no sentido de conceder um prazo de carência, a maturação da recuperação da economia brasileira deverá levar um número razoável de anos.
No atual quadro político pulverizado, as discussões apaixonadas sem a racionalidade desejada podem contribuir para criar uma situação perigosa, onde aventureiros demagogos empolguem uma parte da população, como já aconteceu diversas vezes ao longo da história. Alertar para a necessidade de cautelas adicionais, mesmo que não exista clima para ouvi-las, parece indispensável.