Altos e Baixos na Imprensa Brasileira
26 de abril de 2016
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias | Tags: colunas e reportagens, considerações mais cuidadosas, fontes mais fundamentadas, veteranos e focas
As mudanças que estão ocorrendo na imprensa brasileira, com cortes nas suas receitas, provocam mudanças como a volta de veteranos na elaboração de colunas, e dos chamados focas, ou seja, novatos sem experiência para avaliações mais cuidadosas na redação de reportagens.
Mario Sergio Conti que escreve na sua coluna na Folha de S.Paulo é um veterano que já foi até diretor da revista Veja
Um veterano, como Mario Sergio Conti que escreve uma coluna semanal na Folha de S.Paulo, usa toda a sua longa experiência para chamar a atenção sobre um artigo importante de Perry Anderson, publicado na London Review of Books. Ele historiador anglo-irlandês e trabalhou por muitos anos com assuntos brasileiros, dominando o português. Conti considera o melhor apanhado publicado na imprensa sobre o Brasil atual, que estou lendo com cuidado.
A coluna sintetiza a influência evangélica que, ajudada por outros fatores, resultou nas distorções permitindo a ascensão de personagens duvidosas como Eduardo Cunha, que continua desempenhando um papel vital na política brasileira. Onde também atuam figuras que abusam de suas posições, como Fernando Henrique Cardoso, que conseguiu mudanças na elaboração da Constituição de 1988 para atender suas aspirações políticas, bem como Sergio Moro que usou fontes ralas e de segunda mão, inclusive de um mafioso, para forçar delações premiadas para acumular provas.
Para Perry Anderson, era patente o desprezo de Sergio Moro pelas regras básicas do direito, bem como o seu afã em atropelá-las. Mas se tornou o herói nacional, como se sua cruzada conseguisse eliminar a corrupção no Brasil, o que não aconteceu nem na Itália que inspirou as Mãos Limpas. É evidente que deve se procurar reduzir a corrupção, que não se restringe ao Brasil, mas afeta também outros BRICS, como a China, a Índia, a África do Sul.
O que me parece é que, mesmo com todas as imperfeições da legislação brasileira, o que deve se perseguir é o seu aperfeiçoamento e não a sua desconsideração até pelos membros do Supremo Tribunal Federal, pois ela é a garantia para os cidadãos com relação aos abusos do Estado.
Os assuntos que nos estão afetando exigem estudos mais profundos de todos, onde as impressões dos jornalistas mais novatos na sua ânsia de serem os portadores da verdade não tenham importância, pois sempre são discutíveis e têm versões diferentes de todos os participantes nos acontecimentos que nos afetam.
Só na medida em que acumulamos experiências variadas na nossa cultura poderemos chegar a soluções aceitáveis, pois perfeições no mundo dos seres humanos sempre serão difíceis. Precisamos chegar à possibilidade de convivência de pessoas que pensam de formas diferentes.