A Soprano de Maior Prestígio Atual
31 de maio de 2016
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais e Notícias | Tags: a albanesa consagrada pelos leitores do Opera Magazine, a música sobrevive na crise econômica e política atual, destacada no artigo do The Economist, Ermonela Jaho
Entre os poucos privilégios que continuo mantendo na atual crise é o interesse pela música erudita, onde a ópera desempenha um papel importante, ainda que seja popular somente entre uma elite, mesmo permitindo acesso a baixo custo até no Brasil.
O soprano Ermonela Jaho na foto publicada no The Economist
A soprano Ermonela Jaho ganhou o prêmio anual para o cantor mais estimado pelos leitores da revista Opera Magazine, conforme divulgado neste mês. Ela foi criada numa Albânia que enfrentava muitas dificuldades com uma paranoia isolacionista, contando somente com uma televisão estatal. Os sofrimentos pelos quais ela passou estão expressos em algumas obras de ópera, interpretadas por ela com o fundo de sua alma. Jaho tem grande magnetismo pessoal no palco e canta com particular presença física, afirma o artigo do The Economist.
O artigo ressalta o sucesso que conquistou em Londres no palco do famoso Covent Garden, em 2011, quando o público e a crítica não pouparam os superlativos. Desempenhou “Suor Angelica”, de Giacomo Puccini, ópera em que ela é punida por um caso ilícito, descobre a morte do filho e se suicida rezando pela sua salvação. Expressou uma tristeza vulcânica e a raiva de um animal ferido na sua interpretação. Cantou como o que viu e ouviu na sua vida na Albânia.
Seu pai lecionou filosofia e foi pilotar caças russos, sua mãe era uma professora e sua modesta família não tinha recursos para prosseguir nos cursos para a sua carreira de cantora que sonhava. Ainda com 14 anos assistiu a uma apresentação de “La Traviata”, que lhe abriu os horizontes do que queria. Já cantou esta ópera 232 vezes, segundo o artigo.
Jaho é forte e bem-humorada, possui uma beleza da terra, sem a aparência de uma diva, e pretende ser professora ensinando aos jovens a disciplina que lhe permitiu chegar às alturas. Ela teve sorte, como quando o soprano italiano Katia Ricciarelli a viu numa aula magna no Conservatório Tirana e convidou-a para estudar na Itália. Ela se casou com um amigo de infância residente em Nova Iorque e só o vê dois meses por ano, diante dos compromissos que precisa cumprir na sua intensa agenda internacional em Londres, Nova Iorque, Washington e Paris.
Ela ainda cantará “La Traviata” e “Madame Butterfly, mas consciente das limitações de suas cordas vocais nunca interpretará Wagner. Sua primeira gravação será “Zaza”, de Ruggero Leoncavallo, para a gravadora Opera Rara, que vamos aguardar com grande ansiedade.
Se a sofrida Albânia pode produzir uma artista desta qualidade, há muita esperança para jovens talentos brasileiros, que estão se empenhando até no exterior, também obterem sucesso.