Desgastes Incontroláveis dos Políticos Brasileiros
23 de maio de 2016
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: a profundidade do que aconteceu em muitos lugares do mundo, muitos políticos desgastados com irregularidades, um quadro preocupante | 4 Comentários »
Parece indispensável compreender o que desencadeou esta superficialidade com os valores da sociedade bem como a compreensão do que seja importante para a sua evolução, situação que parece se repetir também em muitos países.
Plenário do Congresso Nacional
A imprensa nacional informa sobre muitos políticos brasileiros apresentando indícios de cometerem irregularidades nos últimos anos, utilizando recursos duvidosos em suas campanhas eleitorais, mostrando um nível de desconsideração com os valores que deveriam ser cultivados, ao mesmo tempo em que pensam em medidas de curto prazo de seus interesses ou de seus grupos.
Este tipo de deterioração parece não se registrar somente no Brasil, mas se repete em muitos outros países, fazendo esquecer os esforços que ocorriam para o adequado preparo destes quadros políticos. Na China, ainda no período imperial, foram preparados os mandarins para administrarem o país. No Japão, foram criadas as Universidades Imperiais para preparar estes quadros. Na França, a Escola Nacional de Administração preparava os dirigentes de diversas correntes ideológicas para a administração pública que, depois de suas carreiras, alguns se tornariam parlamentares e ministros. Muitos outros exemplos de outros países poderiam ser citados.
Fica-se com a impressão que as preocupações atuais se concentram no curto prazo, o que teria se acelerando com as disseminações de técnicas de comunicação rápida, mas infelizmente superficiais, que acabam distorcendo as economias, dando maior importância ao setor financeiro. Em vez de estudos demorados, ideias capazes de serem transmitidas em poucas frases, sem análises mais profundas sobre diversos ângulos com um conhecimento humanístico adequado, viraram modas. As emoções parecem prevalecer às razões e poucos se preocupam com as formações mais sólidas com visões de longo prazo.
A última votação expressiva que ocorreu em Brasília na Câmara dos Deputados, quando expressiva maioria autorizou o prosseguimento do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, deu uma triste amostra do que parece ocorrer. Nas declarações dos votos, poucos se referiam aos eleitores que os tornaram parlamentares, afirmando que estavam dando os mesmos pelas suas mães, esposas e filhos. Triste espetáculo.
Muitos se preocupavam com o que aconteceria se consumado o impeachment, pois eventuais componentes do novo governo seriam decorrentes da atual classe política brasileira, onde muitos estão sendo indiciados também por outras irregularidades. O atual governo interino de Michel Temer adotou um pseudo- parlamentarismo, pois necessita da aprovação das reformas indispensáveis pelo Congresso, transformando alguns em ministros parlamentares cujo mérito seria apenas a herança dos grupos que foram organizados por seus pais. Parecem capacitados a criticar, sem nenhuma condição para elaborar projetos de envergadura que o momento exige.
Mas sempre existem esperanças da compreensão dos sacrifícios que se fazem necessários. Na Grécia, foram recentemente aprovadas pelo seu Parlamento medidas de restrições às aposentadorias impossíveis de serem honradas e o aumento de impostos para arcar com o mínimo indispensável para a sua economia. Espera-se que o governo brasileiro seja capaz de apresentar projetos que possam resolver alguns problemas graves, começando pela livre negociação entre empregados e empregadores para as condições do emprego, de modo a preservar as empresas.
Há que desvincular as diversas verbas orçamentárias, sem que se fixem percentuais rígidos para os diversos gastos, imaginando-se que os mesmos assegurem estas disponibilidades. A elevação indispensável da tributação necessita corrigir a atual distorção onde os menos privilegiados pagam muito mais do que os ricos e poderosos que possuem formas para se livrar dos pesados impostos, alguns que estão sendo empregados em criminosas campanhas políticas.
Todos sabem que o governo da Dilma Rousseff, notadamente desde a campanha eleitoral para a sua reeleição, veio cometendo barbaridades, mas parece indispensável que se volte à moralidade com um mínimo de racionalidade com o novo governo, que terá que se sustentar num infeliz Parlamento e a monstruosa máquina que não tem mecanismos para fazer prevalecer a meritocracia.
Ainda que o prazo disponível para o governo atual seja muito curto, algumas coisas fundamentais podem ser iniciadas para se prosseguir com futuros aperfeiçoamentos. Espera-se que um pouco de milagre possa ajudar o Brasil, enquanto se preparam as condições para que o país conte com dirigentes preparados.
O Ministro da Fazenda do Brasil deveria ser o prof. Dr. Paulo Yokota. Aí, sim, a economia brasileira sairia do buraco.
Abraços.
Caro José Carlos,
Obrigado pelo comentário, mas não tenho esta pretensão. No entanto, fico preocupado com o que está acontecendo pois além do aspecto político, observo que pontos cruciais não estão merecendo a atenção devida. Por exemplo, quando se fala que há necessidade de cortes dos custeios que são altos, não vejo ninguém encarregado com força suficiente para promover mudanças que são difíceis e exigem um trabalho sistemático. As experiências em diversos setores da administração pública me ensinaram que as resistências surdas são difíceis de serem superadas, sendo fácil de falar mas difíceis de serem executadas. Acredito que precisamos da colaboração de especialistas como os da London School of Economics, que acumularam experiências na chamada Antropologia Organizacional, pois as grandes organizações possuem grupos que disputam entre si o poder, havendo necessidade de harmonizar o mínimo de interesse pelo país. Isto acontece na administração pública, nas estatais e até em grandes organizações privadas, havendo que se interessar ministros para trabalhos duros e demorados, visando chegar aos objetivos, com estratégias, instrumentos e recursos definidos.
Paulo Yokota
Concordo com o leitor José Carlos. O economista Paulo Yokota é um profissional muito competente.
Carlos Silva,
Obrigado pela observação, mas existem muitos outros mais competentes e jovens. O que consegui é acumular um pouco de experiência e conhecimentos rudimentares de política econômica. Todos sabem que o problema atual é mais político e o quadro das disponibilidades de elementos qualificados, moralmente qualificados e sonhos de contribuir para o Brasil é limitado.
Paulo Yokota