Distorções Que Precisam Ser Corrigidas
22 de maio de 2016
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias, Política | Tags: a questão dos passaportes diplomáticos, corporativismos de toda a ordem, muitas distorções a serem corrigidas, triste espetáculo na Câmara dos Deputados
O cinismo de políticos como Eduardo Cunha (foto)é difícil de ser aceito pela população, principalmente quando conhece todas as filigranas dos regulamentos no Congresso que permitem a continuidade de suas influências sobre outros congressistas, possivelmente abastecidos com recursos para suas campanhas eleitorais. Correm-se o risco de sua impunidade com o corporativismo que prevalece entre eles.
Com grande cinismo, Eduardo Cunha continua alegando que não possui contas no exterior, quando os especialistas sabem que nos paraísos fiscais são adquiridas contas abertas normalmente por advogados, e os depósitos efetuados aparecem como beneficiários os verdadeiros titulares. Autoridades estrangeiras já informaram que seus parentes como esposa e filhas também movimentam contas semelhantes e até despesas em restaurantes com vinhos caros. Ele alega que não cometeu irregularidades, pois sempre alegou que não possui contas em seu nome, e que tais recursos são originários de seus trabalhos nas vendas efetuadas no passado, principalmente de carnes brasileiras para países africanos. Não seriam decorrentes de operações duvidosas envolvendo a Petrobrás.
Todos conhecem os grupos que atuam nestes mercados, como a Cotia Trading, cujas filiais na Ásia supervisionei por algum tempo, tendo aberto as de Tóquio e de Beijing. A Cotia Trading, do grupo Ovídio de Brito, foi pioneira na Nigéria, de onde importava petróleo para a Petrobrás e promovia as exportações brasileiras de carnes como manufaturados que eram pagas em Londres, num complexo sistema que eliminava possíveis riscos decorrentes do não pagamento. Este grupo atuava também em muitos outros países africanos, que juntamente à Interbrás, uma trading que foi da Petrobrás, era relevante no comércio internacional com aquele continente, operações que foram se estendendo para o Oriente Médio e a Ásia.
Todos que atuam nestes mercados são conhecidos, pois não são muitos até agora e por muito tempo. Nunca se ouviu de atuações de Eduardo Cunha ou de suas empresas nestas áreas. Portanto, são fortes os indícios que são desculpas para justificar recursos de outras procedências, como os apontados por algumas delações premiadas.
Não se pode negar que Eduardo Cunha tem uma elevada capacidade de influenciar muitos parlamentares conhecidos pertencentes ao chamado baixo clero, sendo que também são conhecidos de outros políticos tradicionais que atuam no Congresso. Não existe um controle exclusivo do deputado afastado por decisão unânime dos membros do Supremo Tribunal Federal.
Todos sabem que a imagem do Parlamento está sendo denegrido pelas manobras efetuadas com grande cinismo por Eduardo Cunha. Urge que estas práticas sejam eliminadas. Também existem outras difíceis de serem compreendidas, como a concessão de passaportes diplomáticos para líderes políticos de origem religiosa, sem que participem de eventos que representem o Brasil. Estas práticas que se tornaram costumeiras sob alegação de tratamento igualitário para as diversas religiões soam como algo artificial. Muitas correntes religiosas acabam se tornando mais importantes que os partidos políticos, constituindo bancadas que se interessam por concessões de meios de comunicação social.
Seria desnecessário lembrar que o Brasil não adota nenhuma religião como oficial e sabe-se que muitos recursos duvidosos acabam utilizando as igrejas para ser “esquentados”, o que se tem revelado danoso em diversos países. Estas questões espinhosas precisam ser corrigidas pela reforma política, ainda que afetem muitos atuais parlamentares.