Disseminação da Agrofloresta no Brasil
13 de junho de 2016
Por: Paulo Yokota | Seção: Agricultura, Editoriais e Notícias | Tags: diversidade da floresta, eficiência das atividades, evitando pragas, tecnologia disseminada no mundo pela FAO
São crescentes as informações de projetos de agrofloresta nas mais diversas regiões brasileiras, mostrando que existem preocupações na sustentabilidade da agricultura, com a preservação das florestas, propiciando atividades lucrativas.
O suíço Ernst Götsch considerado pioneiro no Brasil na Agrofloresta
Os primeiros indícios de produções agrícolas aproveitando as florestas ocorreram bem antes da Segunda Guerra Mundial, na Fazenda Monte D’Este, na região de Campinas – SP, quando o grupo Mitsubishi imaginou que o café poderia ser produzido na floresta, evitando-se problemas como a da geada e proporcionando uma maturação uniforme da rubiácea quando sombreada. Mas o conceito mais claro de agrofloresta começou a ocorrer na região do cacau na Bahia, quando o suíço Ernst Götsch entendeu que havia possibilidade de reduzir a disseminação de muitas pragas se a produção ocorresse aproveitando a biodiversidade das florestas. Ele passou a recomendar uma produção de frutas no meio da floresta e utilizando suas tecnologias conseguia que muitas destas frutas recebessem melhorias como a sua secagem para serem exportadas para a Suíça, tornando-se rentáveis. Um filho meu acabou tendo a oportunidade de trabalhar com ele e seus projetos, sempre preocupado com a preservação do meio ambiente, quando isto ainda não era moda.
Sempre se aprende também com os fracassos. Quando o presidente Ernesto Geisel se entusiasmou com a possibilidade da mandioca ser utilizada na produção de etanol, recomendou uma grande plantação da mesma, numa escala que não era usual no Brasil. Disseminou-se nesta plantação uma praga que encontra condições propícias para a sua multiplicação quando ocorre uma monocultura. A agrofloresta procura aproveitar a biodiversidade existente, fazendo com que muitas variedades diferentes de produtos sejam plantadas sem provocar um desmatamento. Algo parecido também ocorreu no projeto de Jari para a produção de celulose com o uso de uma variedade africana de árvore. Constatou-se que o eucalipto plantado no meio da floresta não desmatada proporcionava melhores resultados.
Um artigo publicado por Pedro Mansur e William Helal Filho no site de O Globo informa que muitos projetos estão sendo executados, estimulados pela Embrapa no Estado do Rio de Janeiro, onde as florestas estavam se deteriorando, e o mesmo começa a ser multiplicar na região da Serra do Mar, mesmo no Sudeste e Sul do país. São indícios que aumentam as preocupações do aproveitamento das florestas de forma mais racional, com uma visão de prazo mais longo.
Como em tudo no meio rural, cada microrregião do Brasil apresenta suas características próprias e estas técnicas precisam ser ajustadas às conveniências locais. Dentro do mesmo princípio geral, há que se descobrir quais produtos são mais propícios em cada um dos projetos de agrofloresta. Em muitas áreas vêm ocorrendo a melhoria da qualidade do solo e a disponibilidade de água vem até aumentando.
Hoje, os empresários agrícolas estão preocupados com o bom aproveitamento de algumas áreas, a preservação dos mananciais e das margens dos rios, bem como das coberturas florestais nas áreas menos propícias às atividades agrícolas altamente mecanizadas que, quando feitas em escala, acabam exigindo fertilizantes químicos e uso de pesticidas para evitar as pragas. Com as crescentes preocupações com a saúde humana, aumentam as demandas de produtos orgânicos que não utilizem estes insumos químicos, até porque existem tecnologias para os seus rastreamentos.
São avanços importantes que também estão ocorrendo no Brasil.