Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Equilíbrio na Política Cambial

29 de junho de 2016
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: a acumulação de reservas, dificuldade na conciliação de objetivos diversos, necessidade de preservar as atividades exportadoras, preocupações com a inflação

Ainda que seja difícil de avaliar qual a taxa de câmbio conveniente para o Brasil, desejando-se que o mercado determine o nível adequado, tudo indica que o Banco Central não pode se ausentar totalmente desta área.

image

Taxa de cambio do R$ com o US$ nos últimos três meses, com tendência a valorização

A declaração do novo presidente do Banco Central do Brasil, Ilan Goldfajn, informando que o mercado determinará a taxa de câmbio, está provocando uma aceleração exagerada de sua valorização nos últimos dias, o que de um lado ajuda na redução da meta inflacionária e de outro desestimula as atividades exportadoras, bem como aumenta os gastos dos turistas brasileiros no exterior. Um equilíbrio nesta variável fundamental para a economia de qualquer país é desejável, mas o mercado, que deve ser considerado, acaba tendo flutuações exageradas, com alguns agentes efetuando especulações.

Desde a posse do governo interino de Michel Temer vem se registrando uma tendência à valorização, diante da posição que é tomada pelo seu ministro da Fazenda. Ainda que se persiga uma redução da inflação, num prazo mais razoável a economia brasileira dependerá da geração de divisas para atender seus compromissos, as necessidades de importações e financiamentos externos para seus projetos.

As exportações são fundamentais para o desenvolvimento e para a criação do emprego que é outra preocupação da economia brasileira. Mesmo que o Banco Central não atue na fixação da taxa de câmbio, necessita preservar as reservas internacionais, num período em que a economia mundial passa pelo aumento das incertezas. Já se reduziu substancialmente as vendas no mercado futuro que tinham sido efetuadas pelo governo anterior para evitar as desvalorizações. E o mercado necessita de flutuações que evitem a valorização que foi assegurada na administração do atual ministro da Fazenda, quando ele estava no comando do Banco Central, que permitiu aos investidores estrangeiros usufruírem de ganhos absurdos em dólares no Brasil.

A administração da política econômica é sempre difícil, notadamente quando o governo continua aumentando os seus gastos. A política monetária necessita ser mais conservadora para neutralizar uma parte dos impactos inflacionários destes gastos. A descoordenação da política fiscal com a monetária é fatal para qualquer governo.

Mesmo sabendo-se que o governo interino necessita de apoio dos políticos, tanto para confirmar o impeachment como para aprovar as reformas indispensáveis, num cenário interno e externo desfavorável, muitos gostariam que houvesse maior disposição de contenção dos gastos públicos.

Ainda que se esteja num período de carência do governo interino, as preocupações se multiplicam, ficando difícil conciliar as medidas tomadas com as declarações de austeridade. Se a comunicação social para a população não ficar clara, a execução da política econômica sempre fica mais difícil, mesmo admitindo-se que os objetivos perseguidos são de grande complexidade.