Lições do que Aconteceu na Europa para o Mundo
27 de junho de 2016
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: divórcio dos políticos e burocratas com as aspirações populares, observações de um experiente jornalista, os inconvenientes do setor financeiro, problemas de comunicação
Keith B. Richburg é um experiente jornalista do Washington Post que já atuou na Europa e atualmente tem um trabalho relacionado com a ASEAN – Association of Southeast Asian Nations. Ele analisa os acontecimentos no Reino Unido, recomendando cuidados que não foram tomados pelos europeus, servindo como atenção para questões em outras partes do mundo.
Keith B. Richburg foi chefe do Washington Post em Paris e atuação no momento se concentra na ASEAN
Ficou evidente com o plebiscito no Reino Unido que políticos e burocratas da Comunidade Europeia não deram atenção a diversos pontos fundamentais: o respeito pela opinião pública, a subestimação das comunicações sociais e o divórcio que continua existindo nestas economias com o comportamento do setor financeiro.
Num artigo publicado no Nikkei Asian Review, ele fala sobre sua experiência na Europa, quando constatou que a gigantesca burocracia e os líderes políticos não davam a devida atenção aos acontecimentos com a população que tem interesses específicos, nem sempre coincidentes com os dos dirigentes de um país. É evidente que os ingleses estão interessados nas vantagens da Comunidade Europeia, que apresenta facilidades como de turismo, atuação profissional em outros países, mas não desejam que burocratas determinem os detalhes de como devem se comportar com os migrantes, por exemplo, ou especificações dos produtos para a sua alimentação.
Fica evidente, também, que estes líderes subestimaram seus problemas de comunicação com a população para alertar de todas as dificuldades que adviriam com a saída do Reino Unido da Comunidade Europeia, problema que terão de ser resolvidos nos próximos anos, pois o plebiscito não cuidava de todos os seus detalhes.
O autor observa que na ASEAN, o processo está sendo mais lento, permitindo o convencimento da população sobre os problemas que ocorrem como no Mar Sul da China e outros detalhes observados em países como o Myamar. No Tratado de Nice, tudo foi atropelado, com os burocratas acelerando entendimentos onde nem todos estavam convencidos.
Outro aspecto não apontado pelo autor, mas que acaba tendo a importância é o divórcio dos interesses econômicos dos países membros com os do setor financeiro. Londres veio servindo mais como um centro offshore, atendendo aos interesses dos bancos e do mundo, sem se ater aos da população local. Agora, os muitos funcionários destes bancos, que tinham interesse na continuidade do Reino Unido na Comunidade Europeia, ficam sem saber em que posição estarão no futuro.
Em todos estes problemas fica claro que houve uma subestimação da comunicação social com a população. Na ASEAN, está se procurando convencer todos de forma mais demorada, contando com uma burocracia limitada. Estes problemas ficam também evidenciados com os primeiros pronunciamentos das autoridades brasileiras subestimando os impactos do que está acontecendo na Europa sobre os interesses brasileiros.
Mesmo num quadro fluido onde a situação brasileira ainda não está consolidada, e sem uma profunda avaliação de todas as implicações do que está acontecendo na Europa, muitos se apressam a minimizar os impactos negativos, quando se está observando que os mercados mundiais entraram em verdadeiro pânico, deixando claras as incertezas mundiais.
Parece que devemos ser mais humildes, aprendendo adequadamente as lições que podem ser extraídos destes problemas, para que tenhamos um posicionamento estratégico cuidadoso que não seja alterado a toda hora.