Avaliação Equilibrada do Japão
22 de julho de 2016
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais e Notícias | Tags: a necessidade de critérios rigorosos para a avaliação de um país com o qual temos profundas ligações, as opiniões que ouvimos de terceiros, mas deve se reconhecer o lado positivo, sempre existem aspectos negativos | 12 Comentários »
Com dupla nacionalidade, brasileira e japonesa, com a influência da cultura do Japão em minha formação, tenho uma tendência natural de maior rigor na avaliação daquele país em comparação a quem o conhece mesmo nos seus detalhes. Mas, com dados objetivos, parece que não se deve evitar observações que sejam importantes para muitos.
Uma vista privilegiada do Monte Fuji
Ouço muitos de amigos que visitam o Japão observações elogiosas sobre a cortesia do japonês com seus visitantes, o nível de educação que se observa nas ruas e nas coisas mais simples e rotineiras. Mas, de todas as qualidades inerentes àquele país, destaca-se o baixo nível da criminalidade, o qual devemos tratar sem falsa modéstia
Existe em Tóquio, em frente a sede de sua polícia, um marco com o número diário dos problemas que ocorrem naquela gigantesca metrópole, que se assemelha em dimensão a São Paulo. Os crimes se restringem a poucos casos por dia, normalmente um fato isolado, deixando incrédulo brasileiros inundados por informações de ações criminosas todos os dias no Brasil.
Uma notícia publicada hoje no jornal Japan Today informa que, de janeiro a junho deste ano, o número de crimes no Japão foi o mais baixo desde 1989, apresentando uma queda de 9,3% sobre o mesmo período do ano ano anterior. É um resultado impressionante para qualquer observador.
O sentimento de segurança é um dos mais caros para os seres humanos. Ainda que a população japonesa esteja em declínio, sua economia não tenha o dinamismo de outrora, sendo o padrão de vida dos que vivem no Japão um dos mais elevados no mundo, com a mais alta expectativa de vida do universo, trata-se de um país extremamente seguro para se viver. As coisas mais simples, como o respeito a terceiros no trânsito, a não utilização de celulares nos restaurantes, o pedido de desculpas quando involuntariamente se esbarra com outros, a atenção das vendedoras nas lojas, o respeito aos idosos, aos professores e aos policiais, fazem parte da cultura japonesa.
Os japoneses não costumam usar a palavra “não” com os interlocutores e uma resposta negativa para uma proposta, por exemplo, acaba sendo contornada com expressões do tipo “é difícil”, ou um “hai, hai”, que não significa um sim, mas que está se entendendo o que está sendo tratado. Uma das expressões mais utilizadas é o “arigatou gozaimashita” (muito obrigado), ainda que um cliente nada tenha comprado, mas somente pela visita que efetuou. A tudo se agradece, ao taxista, ao porteiro, aos atendentes de um restaurante e não se dá gorgetas que chegam a ser ofensivas, pois todos estão fazendo suas obrigações.
Oliveira Lima, um dos fundadoes da Academia Brasileira de Letras, no seu livro publicado há mais de um século, “No Japão – Impressões da Terra e da Gente”, ensinou-nos que nos períodos iniciais do conhecimento daquele país se fica encantado com tudo. Mas, depois de meses vivendo o cotidiano no Japão, vai-se observando também as misérias existentes, como é natural em qualquer lugar.
O professor Antonio Delfim Netto, com quem visitei o Japão muitas vezes, tinha pouco tempo para as compras entre os muitos compromissos oficiais e acabava ficando contrariado com as atendentes das lojas. Como em muitos outros países, ele preferia que as compras fossem colocadas simplesmente numa sacola, mas as japonesas faziam questão de embrulhá-las uma a uma, com toda a delicadeza e capricho. Muitos burocratas japoneses, mesmo concordando com os interlocutores, não podem decidir sozinhos, havendo necessidade de um consenso entre eles, o que sempre demanda mais tempo mais que no Ocidente, mas evita mudanças posteriores.
Os japoneses apreciando a florada das cerejeiras, o “hanami”
Hoje, os japoneses não são agressivos empresarialmente, chegando a ser menos competitivos que seus vizinhos asiáticos. Os processos políticos são demorados, pois até os pequenos grupos opositores precisam ser educadamente ouvidos nos seus argumentos. Depois de décadas do término da Segunda Guerra Mundial, ainda dependem dos Estados Unidos para a defesa do seu país e só muito demoradamente devem promover mudanças na sua Constituição para que o seu Sistema de Autodefesa possa atuar de forma mais efetiva.
Os poucos criminosos no Japão, entre eles, muitos jovens de famílias dos imigrantes, são submetidos a um rigoroso sistema de recuperação, onde acordam as 5h e recebem um curso para a formação profissional, entre outros conhecimentos. Todos saem dos isolamentos com uma profissão. Tudo isto demonstra que exitem condições para se conquistar uma segurança individual e coletiva de padrão mais elevado.
Outro EXCELENTE artigo do prof. Dr. Yokota.
Caro Carlos Silva,
Obrigado pelo comentário. Acredito que existem muitos assuntos asiáticos sobre os quais precisamos que os ocidentais tenham mais informações. Vamos procurar melhorando com algumas informações que possam ser úteis.
Paulo Yokota
Nota 1000! Que texto ótimo!
Cara Adriana Paoli,
Muito obrigado pelo comentário. Vamos continuar tentando melhorar as informações da Ásia para os ocidentais.
Paulo Yokota
Aprendo muito, muito mesmo com o professor Paulo Yokota. Gosto da imparcialidade do articulista. Este é um dos melhores blogs do Brasil.
É o reconhecido “padrão de qualidade Paulo Yokota”. O economista conhece como ninguém o Japão!
O amigo morou e trabalhou no Japão?
Caro Igor,
Além de morar no Japão atuei na Ásia com base no Japão, por cerca de dois anos. Viajei para o Japão e para a Ásia por mais de 100 vezes. Tenho também a cidadania dupla, com a japonesa.
Paulo Yokota
Caro Yokota:
O senhor poderia escrever um livro sobre o Japão. A obra faria muito sucesso como “Os Japoneses” de Célia Sakurai.
Caro Eudes Guedes,
Tenho algumas coisas já publicadas e também procuro escrever algumas coisas mais sobre a Ásia, nos seus relacionamentos com o Ocidente. Também tenho ajudado na edição de trabalhos de outros autores. Obrigado pela sugestão.
Paulo Yokota
Paulo, obrigada por compartilhar as suas experiências.
Cara Leila Fraga,
Muito obrigado pelo comentário. Acho que o Ocidente necessita conhecer mais o Oriente e vice-versa. Vamos tentar ajudar, modestamente, com o que podemos fazer.
Paulo Yokota