Críticas Sem Fundamentos à Soja
5 de julho de 2016
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias, Saúde | Tags: artigos irresponsáveis, publicado no site do Estadão, sem fundamentos na realidade ou pesquisa científica
Muitas críticas publicadas na imprensa, sem fundamentos científicos ou na realidade, provocam mais confusões do que ajudam na orientação dos leitores. É o caso do artigo de Juliana Carreiro, do blog Comida de Verdade, publicado no site do Estadão com o título de “Pode espalhar, a vilã da vez é a soja!”, que poderia ser mais equilibrado, assim como seu conteúdo diverge do título.
Foto ilustrativa publicada no site do Estadão, no artigo de Juliana Carreiro
Lamentavelmente, existem pessoas que publicam artigos de forma irresponsável em seus blogs. Este é o caso do blog Comida de Verdade que, com superficialidade, informações incompletas e distorcidas, aumentam a confusão de muitos leitores sobre alimentos. Se os orientais que consomem muito a soja de formas variadas, inclusive in natura, mesmo com todas as limitações possuem a mais elevada expectativa de vida, parece ser um primeiro indício de algo estranho na colocação que está sendo feita. Muitos são os estudos que recomendam a soja e seus derivados para a saúde humana, mesmo existindo algumas contraindicações para casos específicos de determinadas pessoas.
Inicialmente, nenhum oriental, que eu saiba, se propõe a se alimentar somente de soja e seus derivados, mesmo existindo culinárias que só usam este produto ou seus derivados em alguns restaurantes. A regra geral é de uma alimentação balanceada onde a soja pode ter um papel importante, substituindo parcialmente muitas proteínas de origem animal, que ela parece defender por alguma razão. O exagero do consumo de carnes vermelhas está comprovado cientificamente, pois favorece o desenvolvimento de problemas cardíacos e circulatórios provocando muitas mortes prematuras, obesidades, diabetes e outros problemas que afetam a saúde da população até de forma silenciosa. Não é preciso ser um especialista em medicina ou nutrição para obter estes conhecimentos, podendo ser um jornalista ou um simples cidadão.
Particularmente, aprecio como aperitivo grãos de soja em vagens pouco fervida e com um mínimo de sal. Acho saborosos e saudáveis, muito melhor que outros fritos com gorduras saturadas e excesso de sal costumeiramente servidos antes das refeições, tanto nos bares, restaurantes ou nas residências. Comparam-se às cenouras, nabos, salsão e outros vegetais apresentados in natura enquanto se aguarda a parte principal de uma refeição. Parece conveniente que muitos produtos industrializados devam ser evitados.
A autora parece só conhecer o shoyu, o missô, o leite de soja ou o tofu e critica o uso de ciclamato de sódio nos dois primeiros derivados que usam a soja, mas não exclusivamente. Deve se lembrar de que este produto está condenado e é derivado da cana de açúcar e não de soja. Aprendi no Japão que o colesterol negativo para a saúde encontrado num camarão ou outros frutos do mar, por exemplo, acaba sendo neutralizado pelo uso da soja no seu preparo. Não se costuma apreciar o camarão frito com óleos saturados naquele país. Os orientais não condenam um produto, pois eles costumam ser apresentados combinados com outros nas culinárias chinesas, japonesas ou outras asiáticas.
Um dos princípios importantes parece ser esta combinação. Os gengibres, nabos, as pimentas e outros ingredientes ajudam a neutralizar eventuais inconveniências de alguns alimentos, inclusive na sua deterioração, como o sal e o açúcar são usado até em excesso no Ocidente. A fermentação, muito utilizada em todo o mundo, ajuda o poder nutritivo de muitos produtos, sendo usada até pelos índios brasileiros quando precisam se empenhar em tarefas que exigem longos e muitos esforços, como num alimento preparado com a mandioca, muito confundido com o consumo do álcool.
Os brasileiros aprenderam a apreciar a culinária oriental recentemente e abusam dos ingredientes. No Japão, o shoyu e o missô, por exemplo, são usados com muita moderação e contam com muitas variedades, quando no Brasil se dispõe de poucos, uma espécie de oligopólio. Condenar o tofu ou o leite de soja para mim é uma novidade, pois se o primeiro é amplamente recomendado, o segundo é mais utilizado pelos que possuem problemas como de alergia no consumo do leite de vaca ou de cabra e não como a primeira alternativa.
Como no Brasil, em muitos países existem vários tipos de óleos e o da soja ocupa o seu espaço entre vários outros, como o de oliva, normalmente bem mais caro. Quando saturados, todos os óleos tendem a apresentar problemas. E nos demais alimentos industrializados, onde parte da soja é utilizada, costuma-se acrescentar o farelo depois da extração do óleo ou do leite. Ele ainda mantém proteína de boa qualidade, que os japoneses costumam usar de forma semelhante com a farinha da mandioca na produção de algo parecido com a farofa. O que parece condenável é o uso de gorduras trans em muitos destes produtos.
Se existem estudos científicos sobre alguns usos da soja, eles devem ser mencionados. Verifiquei que existem muitas instituições no Oriente que fornecem pareceres baseados em bibliotecas, com metade dos trabalhos apoiando e outra metade desaprovando a soja e seus derivados. Como no caso do café, para citar um exemplo, onde existem posições controvertidas, mais por interesse comercial.
É preciso buscar pesquisas com credibilidade, pois também existem muitas revistas científicas com orientações determinadas, que só apoiam determinadas metodologias. Tudo isto exige uma análise isenta e não a procura de manchetes para atrair alguns leitores.