Investimentos Chineses na Energia Elétrica no Brasil
25 de julho de 2016
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: artigo no Estadão, investimentos chineses via State Grid, os cuidados de suas análises, outras razões
Todos percebem que os chineses continuam efetuando pesados investimentos na infraestrutura no Brasil, sendo que a estatal State Grid se destaca neste mister. Artigos publicados por Renée Pereira e Mônica Scaramuzzo no O Estado de S.Paulo destacam o assunto.
Licitações de linhas de transmissão de energia elétrica no Brasil continuam na mira dos chineses, principalmente por intermédio da State Grid
Tanto usinas elétricas que já estão em pleno funcionamento e continuam sendo privatizadas quanto novas licitações e linhas de transmissão continuam despertando os interesses chineses, com destaque na atuação da estatal State Grid, a ponto dos brasileiros questionarem as razões que os movem. Inicialmente, quem imagina que os chineses não analisam profundamente as alternativas existentes pode estar enganado. Os que já negociaram com as equipes chinesas sabem que seus estudos são exaustivos, contando com todas as informações de quem está vendendo e quem está comprando, bem como os preços e as condições da economia brasileira com horizontes de longo prazo.
Eles sabem que os riscos das suas elevadas reservas estrangeiras são altos, principalmente quando são em dólares e procuram manter um portifólio diversificado, examinando seus retornos no longo prazo, considerando também as possibilidades das mudanças cambiais. Quando as equipes brasileiras sentam frente às chinesas, costumeiramente numerosas, sabem que toda a lição de casa foi feita pelos chineses, que possuem um grande cabedal das informações disponíveis no mercado internacional, não somente do Brasil como de todos os demais países. Quem imaginar que eles se movem pelas modas pode cometer erros significativos.
O Brasil, nas suas dificuldades e a sua política cambial, deixa muitos dos seus ativos baratos quando considerado num prazo longo. E os chineses costumam ser pacientes com o futuro mesmo distante, onde muitas flutuações ainda ocorrerão. Consideram que países emergentes como o Brasil contam com retornos médios elevados, diante dos seus custos atuais.
Também sabem que podem fornecer equipamentos e serviços para muitos dos projetos de infraestrutura do Brasil de forma competitiva, ainda que sempre existam as necessidades de adaptações às condições locais que continuam incertas. As flutuações são consideradas dentro do novo normal, existindo grandes margens que precisam ser estabelecidas nos seus cálculos.
Os chineses já fizeram grandes investimentos na privatização das grandes usinas brasileiras e nas linhas de transmissão. Sabem que os brasileiros aplicaram boas tecnologias na época de suas construções, tanto que muitas delas foram transferidas para a China nas suas necessidades gigantescas.
Os chineses costumam se dedicar muito nos seus estudos, acumulando uma incrível quantidade de informações. E continuam modestos, apesar de suas volumosas inversões, sabendo que o Brasil se diferencia de muitos outros países emergentes ou em início do seu processo de desenvolvimento. Eles possuem uma clara consciência que devem também investir em países fora da moda no momento e precisam de parceiros poderosos. É preciso respeitar e muito a competência chinesa nestas atividades, deixando de imaginar que eles só são competentes nos fornecimentos de quinquilharias.
As limitações por ventura existentes nestas volumosas operações internacionais acabam sendo da parte dos brasileiros que não possuem ainda visões claras de longo prazo, nem uma experiência muito ampla de atuação em todo o mundo, nas atuais condições de fortes flutuações de muitas variáveis que necessitam ser consideradas, além das mudanças de caráter político.
Também os aspectos políticos internacionais não podem ser subestimados. Tanto os chineses como os brasileiros precisam diversificar seus parceiros internacionais, considerando os interesses políticos e estratégicos de longo prazo. No mundo atual, onde os conceitos de domínio local estão totalmente superados, as intensidades dos interesses comuns acabam sendo importantes, não podendo se concentrar somente em poucos blocos.