Novo The Economist Preocupado com o EUA
15 de julho de 2016
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: o pessimismo entre os norte-americanos, preocupação do The Economist com a política americana, sem correspondência com a situação econômica
O The Economist tinha se posicionado contra a saída do Reino Unido da União Europeia e o doloroso processo de ajustamento à decisão do plebiscito deixa a importante revista frustrada. Vendo o os acontecimentos nos Estados Unidos, ainda que seja baixa a possibilidade de vitória de Donald Trump nas próximas eleições presidenciais, constata a existência de problemas preocupantes como os conflitos raciais, que se repetem naquele país, aumentando o pessimismo de muitos.
A capa da edição do próximo fim de semana
Tudo indicava que havia razões para o otimismo nos Estados Unidos, mas nas últimas semanas a revista The Economist constata que predomina naquele país um ar pessimista. Mesmo com os resultados econômicos que está colhendo com uma longa recuperação da economia, o mercado de ações em alta, um desemprego de menos de 5% e os salários reais médios começando a subir e até o aumento dos nascimentos de crianças inter-raciais. A mensagem de Donald Trump é parte das dificuldades e os conflitos raciais, com ataques a policiais, acrescentam problemas, dando a ideia de uma divisão no país, que não corresponde à realidade segundo a revista.
Aparentemente, a revista não considera que o eleitorado norte-americano não está satisfeito nem com a Hillary Clinton, como mostra uma pesquisa feita pelo New York Times e CBS, onde aparece empatada com Donald Trump, ainda que no sistema eleitoral daquele país ela tenha a maioria dos representantes dos diversos Estados. 67% dos eleitores não a consideram digna de confiança, quando o uso de um e-mail particular no exercício da função de secretária de Estado provoca parte destes conceitos. Houvesse outro candidato aceitável, as eleições poderiam apresentar resultados diferentes dos que estão previstos.
Ainda que os Estados Unidos tenham eleito Barack Obama e uma parcela grande da população norte-americana seja a favor de todas as integrações, não se pode negar que existe uma resistência aos imigrantes, principalmente latino-americanos, e à integração racial nas pequenas comunidades e fora dos grandes centros urbanos. O que aconteceu no Reino Unido não pode ser ignorado, pois existe uma maioria silenciosa, cuja opinião deva ser considerada para não se cometer avaliações errôneas.
Se Donald Trump consegue a indicação do Partido Republicano é porque a sua mensagem radical encontra ecos, ainda que assustem a muitos. Mesmo com o desenvolvimento econômico, as diferenças de distribuição de renda vêm piorando, existem desaprovações com as atuações dos bancos e das grandes empresas. Ainda que muitos serviços públicos estejam atendendo quase a totalidade da população, o aumento das diferenças de padrão de vida choca muitos eleitores, que desejam naturalmente maior igualdade.
É claro que isto não significa a divisão inevitável dos Estados Unidos, mas existem áreas para as insatisfações. Muitos estudantes estão endividados para financiar seus estudos, muitas residências foram adquiridas com encargos pesados e o tratamento da polícia choca muitos norte-americanos, não somente os negros. Os assassinatos de muitos jovens negros, amplamente divulgados pela imprensa, aumentam as insatisfações de muitos que se manifestam de forma estrondosa publicamente. A democracia onde a maioria decide começa a ser questionada, principalmente quando os sistemas de representações políticas não refletem totalmente as opiniões de todos.
Como encontrar mecanismos para a convivência de tantos desiguais parece ser o verdadeiro desafio a ser enfrentado pelos Estados Unidos, que servem como exemplo para grande parte do mundo.