O Livro de Marie Kondo e Repercussões de Suas Ideias
10 de julho de 2016
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais e Notícias | Tags: A Mágica da Arrumação, as muitas possibilidades de ampliação dos seus princípios polêmicos, o artigo no The New York Time Magazine
Este livro “Mágica da Arrumação” em português de Marie Kondo, autora de aproximadamente 30 anos, já vendeu mais de seis milhões de exemplares em todo o mundo, tendo sido recordista por 86 semanas na pesquisa do New York Times. Ainda que seja ingênuo e reflita a juventude e inteligência da autora, ajusta-se a uma necessidade humana e seus princípios estão sendo aplicados com semelhanças em organizações de outras áreas das atividades humanas. O artigo de Taffy Brodesser-Akner, por exemplo, ajuda a constatar seus usos paralelos e foi publicado no New York Times Maganize, constando do site do The New York Times.
Foto da capa na versão brasileira, da Editora Sextante, que a editou em português
Marie Kondo começou aos seis anos de idade a perceber que todos guardam produtos de forma desorganizada e vão se acumulando sem serem utilizados. Segundo ela, quando ainda estava no ensino fundamental descobriu um livro intitulado “Art of Discarding (a Arte de Descartar)”, de Nagisa Tatsumi, que a levou à conclusão que para atingir uma solução definitiva na arrumação há que se ficar somente com o essencial que lhe proporcione alegria. Voltando para sua casa, arrumou o seu quarto e descobriu que havia oito sacos de roupas, livros infantis, brinquedos e diversas coleções de muitas coisas do qual deveria se livrar. Há que se compreender que na cultura japonesa costumava-se guardar tudo, considerando um desperdício descartar as coisas e pode-se discutir a correção de suas ideias, havendo possibilidade relativizá-las em muitos aspectos. Marie Kondo admite que existam muitas formas de arrumar as coisas que não sejam as suas, não se achando à única que tem ideias a respeito.
No entanto, deve-se observar que atende a uma necessidade humana e seus princípios podem ser aplicados a quase tudo, desde a organização dos pensamentos até chegar à administração de um país, pois ela chega a revelar numa entrevista que pretende arrumar o mundo, o que não deve ser interpretado somente como uma arrogância, mas verificar como se pode aproveitar algumas de suas ideias ou algo semelhante. É evidente que ela é produto de um país desenvolvido, onde não encontra muitas limitações para adquirir demasiadamente. Tira prazer de se descartar o que não mais lhe traz alegrias, o que não acontece em muitas partes do mundo, com limitações para adquirir o que se deseja.
Eu particularmente, que sou extremamente desorganizado e gostaria de aprender a arrumar minhas coisas, tenho a impressão que existem entre os mais modestos muitas coisas que são desnecessárias para alguns mais privilegiados e podem ser aproveitados, em parte, pelos mais necessitados. Marie Kondo aventa esta possibilidade no seu livro, de passagem. Também há amplas possibilidades de serem reciclados, como no caso de papéis, metais, alumínios, plásticos e outros que avolumam os lixos principalmente dos países desenvolvidos e cujos custos de eliminação são apreciáveis, como no Japão ou nos Estados Unidos. As novas gerações tornaram tudo descartável, mas mesmo os produtos eletrônicos contam com matérias-primas estratégicas que podem ser reaproveitadas, exigindo processamentos especiais para seu aproveitamento, como no caso das terras raras.
Marie Kondo dá consultorias profissionais para ajudar a aplicar suas ideias em situações variadas para a arrumação das pessoas que desejam a sua ajuda. Faz sucesso em reuniões que começaram no exterior com a ajuda do Japan Foundation em New York, quando necessitava de intérprete. Hoje, repete estas reuniões muito procuradas como em San Francisco, mostrando-se uma jovem inteligente que continua evoluindo em suas ideias, que vira quase uma filosofia que pode ser aplicada em diversas áreas, como aponta a autora do artigo, Taffy Brodesser-Akner.
Examinando de onde começou a sua técnica, que hoje chama de método KonMari, constata-se que decorre de aperfeiçoamentos constantes que começaram na sua infância nas leituras de muitas revistas para as atividades domésticas, com os armários das roupas e as formas de dobragens como está no seu livro. O princípio seria a fácil visibilidade das peças necessárias e que proporcionam alegria, descartando tudo que já não é mais utilizado ou tenha possibilidade de sê-lo. Caminhou para os livros, com algumas regras práticas, depois para papeladas, indo para coisas como coleções, chegando às fotografias. Chega ao conjunto de uma residência, onde se nota a influência do feng shui chinês, tudo visando à felicidade de viver num local agradável, incluindo os banheiros e as cozinhas.
As regras por ela recomendadas são inteligentes, mostrando que empilhar as coisas dificultam a sua visualização, preferindo-se armazenar em fileiras. Ou as formas de usar as bolsas femininas e onde as coisas devem ficar, evitando-se caixas ou a aquisição de novos produtos especializados para armazenagens.
Mari Kondo chegou até os Estados Unidos, que é um mercado promissor para suas consultorias. Os norte-americanos possuem a NAPO – National Association of Professional Organizers que em muitos pontos estão em desacordo com o que é recomendado por Mari Kondo. No Japão, afirma-se que existem dezenas de entidades semelhantes reunindo profissionais dedicados à organização, bastando ver os escritórios japoneses que costumam ser amontoados de papéis de todos os tipos.
Suas reuniões atraem muitos participantes e os mais interessados se autonomeiam como “konverts”, provocando muitas discussões, virando algo como um grande movimento em favor da arrumação ou organização, quase uma filosofia de vida. Para muitos pode ser confundido com uma paranoia, para outros uma moda, mas parece que atende a uma aspiração de muitos, inclusive com a ampliação de um mercado para atividades profissionais nesta especialidade.
Vendo o mundo atual e o Brasil muito confuso e desorganizado, chega-se a possibilidade de cogitar-se de algo que constituindo uma rede, possa-se explorar profissionalmente, tanto ajudando as famílias onde tudo se origina até chegar ao país como um todo que certamente está necessitando de uma profunda reorganização, tanto na política como em toda a administração pública ou privada.