Realismo na Exploração do Pré-Sal
5 de agosto de 2016
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: outros casos no passado, pragmatismo superando o idealismo, realismo nos gigantescos programas como a exploração do pré-sal
Quando o Brasil descobriu a existência de petróleo e gás no chamado pré-sal com potencialidade de quantidades gigantescas, rara no mundo, havia necessidade da organização de sua complexa exploração, contando com os grandes grupos brasileiros, incorporando tecnologias disponíveis no exterior.
Gigantescas plataformas para a exploração do pré-sal, utilizando tecnologias importadas
A única experiência mundial na exploração do petróleo em grande escala na plataforma marítima era no Mar do Norte, mas a sua profundidade era sensivelmente menor quando comparada com o pré-sal na costa brasileira. Muitos se situavam em áreas com lâminas de água de pouco mais de mil metros, quando no pré-sal brasileiro predominavam os que atingiam até seis mil metros de profundidade. Era natural que as autoridades brasileiras pouco experientes nestes desafios procurassem os grandes grupos brasileiros de construção pesada para promover também parte de produções de equipamentos pesados no Brasil, com o auxílio de grupos estrangeiros que tivessem experiências na construção naval. Também havia necessidade de leasing de muitos equipamentos disponíveis no mercado.
A magnitude inusitada das necessidades destes equipamentos exigia que fossem feitos pelo mundo os chamados “Road Show”, procurando atrair os grupos internacionais experientes nestas associações, que também deveriam contar com substanciais suportes financeiros para os investimentos indispensáveis. Muitas reuniões deste tipo foram realizadas nos grandes centros internacionais, contando também com a presença das autoridades estrangeiras, principalmente os bancos de desenvolvimento. Nada de anormal se tudo não fosse contaminado pela exagerada ganância de alguns grupos, inclusive com interesses políticos.
Muitos grandes projetos brasileiros exigiam arranjos com grupos capazes, tecnológica e financeiramente, de organizar este tipo de obras. Um primeiro caso foi a ponte Rio Niterói, onde um grupo capaz foi convocado para realizar a complexa obra, cuja concorrência tinha sido vencida por um grupo sem condições de concluir a ponte. Outro caso famoso foi a construção da Usina de Itaipu, onde também o grupo vencedor não tinha dimensões para executar um projeto que era o maior do mundo na época. Um consórcio acabou sendo constituído, reunindo grandes grupos, para executar o gigantesco projeto.
O ideal é que tudo isto fosse executado por concorrências bem organizadas, mas o país e nem o mundo tinha experiência para tanto. Países desenvolvidos também contam com grandes empresas colaborando com o necessário, notadamente quando os interesses nacionais de segurança estão envolvidos, como no caso dos Estados Unidos.
Um artigo publicado no Valor Econômico, elaborado por André Guilherme Vieira, informa que contratos com a empresa Sete Brasil, organizada para centralizar parte dos equipamentos, foram direcionados, segundo as autoridades brasileiras. Que algo parecido se tornou necessário parece evidente, mesmo que não houvesse necessidade de relacionamentos criminosos. O ideal é que tudo fosse processado por concorrências bem elaboradas, mas é preciso reconhecer que isto seria de extrema dificuldade, e mesmo que não se caracterizasse um cartel, um mínimo de coordenação seria indispensável.