Repercussões Sobre a Mensagem do Imperador do Japão

8 de agosto de 2016
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias, Política | Tags: expressão de suas limitações para cumprimento do papel, o simbolismo da representação do Japão pelo Imperador, os problemas da sucessão | 4 Comentários »

Se existem países no mundo onde a Família Imperial representa a nação de forma elegante, o Japão é certamente um destaque, talvez tanto quanto no Império Britânico, sem alguns dos seus problemas. Naquele país, a vida da Família Imperial é extremamente controlada pelo protocolo, mesmo com os naturais problemas pessoais, inclusive de doenças e relacionamentos.

Genealogia da Família Imperial do Japão, publicada no artigo do Nikkei Asian Review

A antropóloga norte-americana Ruth Benedict tinha estudado o papel da Família Imperial no Japão durante a Segunda Guerra Mundial a pedido do governo dos Estados Unidos, que foi publicado posteriormente no seu livro clássico “O Crisântemo e a Espada”, em 1947. Ela recomendava que, depois de terminada a Guerra, a figura do Imperador do Japão fosse preservada, o então Imperador Hirohito, que depois de falecido passou a ser chamado de Showa (esta mudança de nome é da tradição japonesa, para identificar como Era Showa o período de seu exercício na qualidade de Imperador), reconhecendo a importância dela para o povo japonês. Isto foi feito, despido de sua condição sagrada, ainda que houvesse exercido um papel mais atuante que o do atual, sendo responsabilizado por algumas decisões que seriam consideradas crime de guerra.

Tive o privilegio de conhecê-lo muito reservadamente quando de uma visita do presidente Ernesto Geisel ao Japão. O Imperador Akihito era o Príncipe Herdeiro com quem tive diversos encontros no Brasil e no Japão, ele que ajudava o seu pai em muitas das tarefas de representação daquele país de forma mais contemporânea, pois visitou muitos países ocidentais. Sucedeu-o e expressou de forma muito elegante nesta segunda-feira pela televisão para o povo japonês e para o mundo que se preocupa com a sua limitação para o exercício da atual função, sugerindo que se deveria discutir a sua sucessão ainda em vida. Para os costumes da Família Imperial e suas formas de se expressar, isto significa que já está determinado a renunciar em favor de seu filho, o Príncipe Herdeiro Naruhito, o que deve ocorrer em breve.

O Imperador Akihito esteve no Brasil por mais de uma vez e era o Príncipe Herdeiro quando ocupei o cargo de representante do governo brasileiro no Japão para ciência de tecnologia na EXPO TSUKUBA 85, e tive o privilégio de explicar-lhe o significado do Pavilhão Brasileiro naquele evento centrado no uso do etanol. Dotado de grande memória, apesar dos seus muitos compromissos, recordava-se dos nossos encontros anteriores, como quando da comemoração do Centenário da Imigração Japonesa ao Brasil, quando conversou informalmente com muitos brasileiros presentes ao coquetel no qual só se esperava uma visita protocolar. Ele e sua esposa ficaram por longo tempo para fotografias e ligeiras conversas.

Na época do Imperador Hirohito, as pessoas não deveriam falar com ele a não ser expressamente solicitado. O atual Imperador Akihito pergunta muito e estimula até uma troca de informações e opiniões. O Príncipe Herdeiro Naruhito, quando assumir o papel de Imperador, deve ser mais descontraído, pois também foi educado no Reino Unido e já visitou muitos países, inclusive o Brasil, sendo casado com uma plebeia, que atuou até como diplomata japonesa.

Muitas inovações são esperadas, pois não existe a tradição de renúncia de um Imperador no Japão e cogita-se que os sucessores não necessitem ser homens. Tanto internamente no Japão como os relacionamentos com outros países, esta sucessão acabará tendo consequências, despertando o interesse de todos.