Dificuldades Mundiais Para um Desenvolvimento Razoável
23 de setembro de 2016
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: as dificuldades mundiais com as políticas econômicas, exagero nos instrumentos monetários, limitações da atual política fiscal, reformas e distribuição de renda
Deve-se reconhecer que mesmo o mundo desenvolvido enfrenta uma perplexidade para acelerar o desenvolvimento econômico, com as autoridades monetárias chegando a taxas negativas de juros que acompanham o aumento de liquidez, que não parecem resolver o problema.
Ilustração utilizada na capa do The Economist deste fim de semana
Há uma evidente perplexidade dos economistas diante das dificuldades das autoridades monetárias de regiões desenvolvidas como os Estados Unidos, o Japão e até a Comunidade Europeia em conseguirem auxiliar no processo de mais rápida recuperação do seu desenvolvimento econômico, ajudando o resto do mundo. Estão utilizando os seus Bancos Centrais, chegando até a adotar políticas de juros negativos, mas não conseguem fazer com que as empresas sejam mais agressivas nos seus investimentos. E, ao mesmo tempo, seus Tesouros não contam com recursos suficientes para ampliar seus gastos tanto com o financiamento dos projetos de infraestrutura e pesquisas que aumentem as produtividades como os atendimentos das despesas sociais, estando com seus limites de endividamento nos níveis que chegam a preocupar.
O professor Delfim Netto sempre ensinou que a política monetária poderia ser eficiente para reduzir o nível de atividade elevando os juros ou restringindo os créditos disponíveis. Era como uma corda, boa para puxar e frear, mas incapaz de empurrar a economia. Depois da crise que começou em 2007, os bancos responsáveis pelas más aplicações dos seus recursos ameaçaram as autoridades com o risco de problemas sistêmicos, acabando por receber generosos e volumosos recursos para continuar a manter suas atividades, num mundo que elevava sua liquidez e acelerava os fluxos financeiros internacionais sobre os quais não desejavam regulamentações.
Hoje, estas autoridades parecem não saber o que podem fazer e o Japão é o mais agressivo em continuar a aumentar as disponibilidades financeiras objetivando passar da deflação para uma inflação de 2% ao ano, ainda que o problema não pareça ser o de oferta, mas queda da demanda. O FED norte-americano começa a receber críticas, pois também não consegue um crescimento mais consistente mesmo na economia dos Estados Unidos. Algo parecido acontece também na Europa.
Foram os países emergentes como a China e até o Brasil que, com um esforço de melhoria da distribuição de renda, acabaram criando uma nova classe média que passou a impulsionar suas economias, estimulando também a mundial. Os incluídos entre os BRICS eram a esperança. No entanto, também nos períodos de crescimento, as distribuições de renda começaram a piorar, inclusive nos países emergentes. Agora, necessitam promover reformas difíceis de serem executadas, estimulando o mercado interno e reduzindo a sua necessidade de ampliação das exportações para o resto do mundo. Mesmo nestes países emergentes, os ricos continuam melhorando seus ativos que não conseguem ser tributados, enquanto a massa de desfavorecidos acaba pagando a conta com o desemprego, redução de seus rendimentos e dos serviços sociais. Quem se posiciona a favor da melhoria da distribuição de renda acaba sendo acusado de ser contra o sistema de mercado, ainda que as demonstrações públicas comecem a indicar que o limite do suportável parece próximo de ser atingido.
Muitos admitem que só reste continuar crescendo modestamente por um período relativamente longo, enquanto o mundo passa por um aumento da expectativa de vida, aumentando seus idosos e reduzindo os jovens que possam arcar com os aumentos das despesas sociais, inclusive da previdência social. O desespero dos imigrantes que procuram formas de sobrevida e os jovens que apesar de formados não conseguem empregos condignos aumentam as tensões sociais. Uma parte das dificuldades políticas recentes parece também estar relacionada com os aumentos das insatisfações.
E não existem indícios de estadistas que tenham a capacidade de canalizar todas estas forças para soluções que exigem ajustamentos que implicam também em sacrifícios. O risco de soluções populistas acaba se agigantando. Parece ser a hora dos privilegiados se conformarem com a perda dos dedos para não terem seus braços amputados.