Compreensão Científica das Chuvas na Amazônia
26 de outubro de 2016
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais e Notícias | Tags: esclarecimentos didáticos no artigo no Estadão, experiências concretas., explicações científicas das intensas chuvas na Amazônia
O conhecimento dos brasileiros sobre a Amazônia ainda é limitado por causa da vastidão da região. Muitos só a conhecem somente pelas poucas visitas às suas grandes cidades, mas por razões profissionais acabamos sabendo um pouco mais sobre a sua realidade e as pesquisas científicas atuais estão ajudando a acrescentar informações importantes.
Gráfico publicado no Estadão, com base no estudo do físico brasileiro Paulo Artaxo, que explica a intensidade das chuvas na Amazônia
Todos sabem que na Amazônia as chuvas são intensas, mas nem sempre têm ideia de quão forte elas são. Alguns exemplos dão uma leve noção de sua intensidade, como a experiência na mata quando parece que uma cachoeira está caindo num determinado local. Alguns madeireiros ilegais extraem clandestinamente algumas variedades mais valorizadas como o ipê na ampla biodiversidade da Amazônia, deixando o seu tronco simplesmente no meio da mata, onde não existem possibilidades da construção de estradas, mesmo precárias. Quando chega a chuva intensa, forma-se uma corrente de água que arrasta o tronco pela mata até chegar perto de um rio, derrubando tudo que encontra pelo seu caminho.
Mesmo na região como de Manaus, existem locais no rio Negro onde a largura de uma margem à outra é imensa, chegando a mais de 100 quilômetros no delta formado por ele, o Amazonas e o Solimões, principalmente durante as cheias. No porto da cidade, pode-se notar que elas chegam a subir mais de 25 metros. Calculando-se grosseiramente, pode se avaliar a quantidade de água nas cheias, fazendo com que ilhas emersas na seca fiquem todas inundadas. Quando chega a baixa, os novos rios surgem a quilômetros do antigo traçado, dificultando a delimitação de algumas áreas privadas que afirmam que elas vão até tal rio. Somente o uso do GPS permite saber exatamente os limites de tais propriedades.
As descobertas de grandes equipes de cientistas de diversas origens permitiram a publicação de um importante artigo mencionado por Fábio de Castro no Estadão. Explicado pelo físico Paulo Artaxo, do Instituto de Física da Universidade de São Paulo, que participou da pesquisa, o artigo científico foi publicado na respeitada revista científica Natura com o título “Amazona boundary layer aerosol concentration sustained by vertical transport during rainfall”.
As pesquisas anteriores eram feitas com a aeronave Bandeirantes que voava a cerca de três mil metros de altitude. Agora, com o uso do avião alemão Halo, voa-se até a 15 mil metros de altitude, possibilitando a identificação de partículas que sobem para a atmosfera com dimensões mínimas de 1 a 10 nanômetros de dimensão, que acabam permitindo a elevadas altitudes a formação de partículas de água que se precipitam em chuvas intensas. O artigo científico publicado no Nature informa com muitos detalhes o que é de difícil compreensão para os leigos, indicando também a metodologia utilizada.
Um dos mapas publicado na revista científica Nature sobre a direção do vento durante o período de chuvas.
A Amazônia é importante tanto para o clima na América do Sul como no mundo. Exige-se maior intensidade de fiscalização para evitar-se o seu desmatamento, dentro do compromisso assumido pelo Brasil com relação ao acordo de Paris. Há que se estabelecerem mecanismos para o seu rígido controle, além da preservação de suas gigantescas reservas, sem o que a humanidade acabará perdendo a sua influência, aumentando as irregularidades climáticas de forma desastrosa.