Entendimentos Entre Empresas Automobilísticas Japonesas
13 de outubro de 2016
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: artigo no The Wall Street Journal, entendimentos da Toyota com a Suzuki, formação de grandes e poucos grupos | 14 Comentários »
Todos sabem que no mundo as indústrias automobilísticas tendem a formar grandes grupos, utilizando suas experiências em algumas faixas de veículos, entendendo-se com outras companhias fortes em outras. As japonesas Toyota e a Suzuki estão mantendo entendimentos para atuações conjunta em algumas áreas.
A Toyota é atualmente a maior indústria automobilística do mundo, mas não possui uma profunda experiência de veículos de pequeno porte onde a Suzuki possui know-how comprovado. Os problemas que ocorreram com empresas como a Volkswagen e a Mitsubishi Motors estão acelerando os entendimentos destas empresas com outras para aproveitar melhor suas tecnologias, visando um mercado mundial cada vez mais competitivo. No presente caso, as parcerias buscam benefícios na área ecológica, segurança e uso de informática.
Neste sentido, a Nissan obteve uma inusitada experiência de fusão de seus interesses com a Renault francesa quando de suas dificuldades, e agora que a Mitsubishi Motors passa por uma crise se conseguiu um entendimento com a Nissan/Renault. A Suzuki que vinha mantendo negociações com a Volkswagen tendo uma larga experiência em veículos de menor porte, diante dos problemas enfrentados pelos alemães, volta-se a novos entendimentos com a Toyota, que não possui tradição em veículos menores, mas conta com elevada capacidade para a mobilização de recursos. O caso destes dois grupos japoneses foi objeto de um artigo de Sean McLain publicado no The Wall Street Journal.
Como muitos sabem, a família Toyoda, fundadora e altamente influente na Toyota, iniciou suas atividades na primeira metade do século XX como produtora de equipamentos para a indústria têxtil. Eu tive o privilégio de iniciar meus contatos com Shoichiro Toyoda, hoje com 91 anos, que foi presidente da Toyota e do Keidanren (Federação das Organizações Econômicas do Japão). Ele veio a nosso convite visitar os principais projetos brasileiros, desde a Transamazônica até as usinas hidroelétricas de Jupiá e Ilha Solteira. Toyoda era o menos hierarquizado dos empresários japoneses que compunham a comitiva do Keidanren e hoje está mencionado no artigo do The Wall Street Journal como quem iniciou os entendimentos com o Osamu Suzuki, 86 anos, presidente da Suzuki. Tivemos outros contatos no Japão sobre as atividades da Toyota no Brasil.
Quando discutimos com os dirigentes da Toyota sobre a possibilidade de produção de veículos de menor porte no Brasil, eles comentavam que não eram especialistas nestes modelos. No caso da Nissan/Renault com a Mitsubishi Motors, também há um relacionamento com o Brasil, pois os entendimentos foram conduzidos pelo franco-brasileiro Carlos Ghosn.
No artigo publicado no Japan News, com base nos despachos das agências internacionais e japonesas, afirma-se que os focos principais dos entendimentos estão nas áreas ecológicas, de segurança e aplicação da informática que beneficiam o setor automobilístico como um todo,
Foto do presidente Akio Toyoda da Toyota num aperto de mão com o chairman da Suzuki, Osamu Suzuki, publicada no Japan News
Muitos sabem que a Toyota não é muito forte na Índia, onde deseja ampliar suas atividades e a Suzuki está consolidada. Ambas sabem da prioridade que devem continuar a dar ao mercado chinês, bem como outros países emergentes do Sudeste Asiático, cujas dimensões devem continuar crescendo. Necessitam contar com modelos competitivos em todas as faixas no mundo globalizado.
Na medida em que o Brasil recupere as condições para voltar a crescer de forma substancial, estes grupos, que já contam com experiências neste mercado, devem cogitar das ampliações de seus projetos. Mas, de forma realista, mesmo tendo que manter um pé no mercado sul-americano, não consideram como os mais estratégicos para veículos cujas tecnologias novas evoluem para menor consumo de combustíveis, notadamente dos poluentes. A inserção da informática é uma realidade, a segurança é considerada fundamental e se caminha para veículos até sem necessidade de motoristas, tal o nível da informática utilizada.
Dr. Yokota:
Com certeza, os japoneses desenvolvem os melhores carros do mundo. Já tive Honda e Toyota que são marcas de altíssima qualidade. A aliança entre a Toyota e a Suzuki será sensacional.
Caro Carlos Silva,
Obrigado pelo comentário. Também tenho carros japoneses, mas eles não adaptaram às condições brasileiras em muitos casos. Como a tecnologia para uso do etanol e sua mistura na gasolina que é uma tecnologia alemã, estes carros utilizam mais combustível do que o necessário. Estamos obrigando que também eles façam pesquisas no Brasil. Sempre é possível melhorar em muitas coisas.
Paulo Yokota
Discordo do Carlos Silva e do Yokota. Quem faz os melhores carros são os americanos. Eles compraram, aliás, toda a indústria automobilística japonesa. Toyota, agora, é americana.
Cara Simone Aparecida,
Seu comentário não tem base.
Paulo Yokota
Até certo ponto me surpreende a diretoria da Toyota alegar não ter muita experiência com os veículos compactos, tendo em vista que a Daihatsu é uma subsidiária da Toyota famosa justamente pelos kei-jidosha. De vez em quando eu até vejo algum Daihatsu Cuore daqueles da década de ’90 no meu bairro.
Caro Daniel Girald,
Obrigado pelo seu comentário. Na realidade, os grupos japoneses tendem a contar com muitos grupos dentro da própria organização. Conta com uma subsidiária não costuma significar que seus conhecimentos já tenham sido incorporados. Existem fusões de empresas no Japão, efetuados há mais de 20 anos, que continuam com grupos que não se entendem na nova organização.
Paulo Yokota
Doutor:
A Toyota desenvolveu alianças com a Suzuki, a Mazda, a Isuzu, a Hino, a Daihatsu, a Fuji-Subaru, a Yamaha e, por via indireta através da Hino Motors, a J-Bus. Será cabe mais alguma montadora japonesa sob a esfera de influência da Toyota?
A Nissan é titular de 34% das ações da Mitsubishi Motors e irá controlá-la com o conglomerado Mitsubishi, sendo mais precisamente o banco Mitsubishi UFJ Financial Group, a trading Mitsubishi Corporatione o estaleiro Mitsubishi Heavy Industries. A Mitsubishi Motors tornou-se parte da aliança Renault-Nissan.
A Honda prefere ficar sozinha. Infelizmente…
A nipônica Mitsubishi Fuso Truck and Bus Corporation (caminhões e ônibus) é controlada pela alemã Daimler.
A japonesa UD Trucks (caminhões) é subsidiária da sueca Volvo.
Duesen Bayern, Mitsuoka Motor, Terra Motors, Green Lord Motors, Takeoka e SIM-Drive são montadoras nanicas do Japão. Logo, inexpressivas.
A Kawasaki é renomada pelas motocicletas.
A meu ver, basicamente, restaram três grupo poderosos do Nippon:
1- Toyota e suas aliadas (Mazda, Suzuki, Daihatsu, Hino, Yamaha, J-BUS, Isuzu e Fuji-Subaru);
2- Nissan- Mitsubishi (aliança Renault-Nissan);
3- Honda.
Com a sua vastíssima experiência e sabedoria, eu cometi algum equívoco?
Muito obrigado e um forte abraço!
Caio
Caro Caio Abdalla.
Ainda que muitas empresas japonesas ainda mantenham nomes tradicionais como a Mitsubishi, hoje estes aglomerados estão diluídos, não havendo solidariedade entre elas. O mercado de capitais funciona no Japão e fundos diversos possuem ações para proporcionarem retornos e não se imiscuírem nos negócios das empresas e os desenvolvimento de suas tecnologias, inclusive no setor automobilístico.
Paulo Yokota
Prof. Dr. Paulo Yokota:
Eu só gostaria de complementar o comentário da leitor Caio Abdalla (04/03/2017). Na verdade, a Toyota mantém alguma relação com nove montadoras japonesas e não oito. A Toyota Motor Corporation é uma das principais acionista da Terra Motors Corporation. Por derradeiro, o Sr. Caio esqueceu de citar a pequena fabricante nipônica de carros elétricos FOMM Corporation. Parabéns pelo excelente blog.
FOMM Corporation
http://fomm.co.jp/wordpress/index_en.html
Caro José Carlos Kobayashi,
Obrigado pela sua contribuição e pelo seu comentário.
Paulo Yokota
Paulo, muito legal a aliança entre a Toyota e a Suzuki. Sempre gostei muito dos carros da derradeira, sendo que tenho um Suzuki Vitara. O meu irmão tem um Toyota RAV4 que é bem bacana.
Uma pena a Nissan ter comprado 33,99% das ações da Mitsubishi Motors Corportaion (MMC), mas, ao menos, o conglomerado Mitsubishi detém, aparentemente, 20,83% (outras empresas do keiretsu tem participações societárias minoritárias na MMC). Teria sido show de bola que a Suzuki tivesse comprado papéis da MMC.
Tecnicamente, a Nissan é subsidiária da Renault e isso nunca me agradou, embora Carlos Ghosn tenha salvado a japonesa da falência. A Nissan, a meu ver, perdeu o seu DNA.
Caro Henrique Pinho Miranda,
Pelo que conheço da indústria automobilística japonesa, para atuarem no mundo globalizado, necessitam de associações com grupos estrangeiros, ou adquirirem controles de grupos estrangeiros aproveitando o conhecimento do seu pessoal técnico.
Paulo Yokota
Sr. Paulo:
Acho que o senhor não entende bem de indústria de autos, pois a Toyota é uma empresa que nunca foi boa em diversos quesitos. Ela jamais será como uma VW ou Mercedes-Benz, pois não fabrica caminhões, nem ônibus e motos. A Volkswagen tem a Scania, a MAN, a Ducati etc. A Daimler possui a MV Agusta, a Freightliner, a Fuso etc. A Toyota jamais teve condições de comprar uma montadora estrangeira e se limita a “fazer amizades” com fabricantes do Japão que estão agonizando como a Suzuki e a Mazda.
Caro Gustavo Haddad,
Com todo o respeito à sua opinião sobre as minhas ideias, acho que existe um profundo desconhecimento seu sobre tudo que tenho expressado. Tenho, ao longo de muitas décadas, como as dificuldades da Toyota. Se escrevi até em excesso sobre Carlos Ghosn é por que conheço todos os trabalhos feitos no Japão e no exterior sobre o setor automobilístico, visitando suas fábricas em muitas partes do mundo. Não expresse opiniões apressadas sobre o que não conhece, pois pode ofender outros que trabalham seriamente. As minhas críticas à Toyota já duram décadas, e se deseja um equilíbrio nas avaliações, acho que as irregularidades cometidas pela Mercedes Benz como a Volkswagen que já foram objeto de delações premiadas delas mesmas também precisam ser consideradas.
Pergunto quantas fábricas destas empresas V. visitou e conhece pessoalmente.
Paulo Yokota