Esforços Bem-vindos Mas de Altos Riscos
7 de outubro de 2016
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: as tendências de longo prazo, dependem do comportamento da demanda, esforços importantes no Brasil, riscos elevados para o crescimento dos investimentos
O governo brasileiro, com a compreensão de todos, se empenha no sentido de controlar a evolução do seu déficit fiscal, aumentar os investimentos na produção do pré-sal e efetuar esforços para o aumento da sua produção agropecuária. No entanto, sem desejar ser pessimista, todos envolvem riscos elevados diante das tendências de longo prazo que se observam no mundo.
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Todos concordam que o Brasil precisa dar uma sinalização marcante de gastar somente o que conseguir arrecadar, reduzindo após um período o aumento do seu endividamento, mesmo procurando manter as prioridades dos investimentos em educação e saúde. Mesmo sendo um exagero que isto se transforme em matéria constitucional, até porque a Constituição vem sendo modificada na sua interpretação sem uma reforma, transformando a sua garantia em algo pouco estável.
A Constituição brasileira é reconhecidamente muito detalhista, o que exige uma flexibilidade na sua aplicação e colocar problemas conjunturais no seu bojo pode ser uma solução discutível. Em muitos países, a Constituição é uma listagem dos principais desejos permanentes de uma sociedade que são perseguidos ao longo do tempo e existem legislações em níveis mais modestos que podem ser modificadas de acordo com as necessidades. Parece que está se utilizando no Brasil uma medida drástica para convencer investidores que o governo, com baixa credibilidade, está realmente disposto a gastar somente o que arrecada.
Parece conveniente se reafirmar que os investimentos de aumento das ofertas de petróleo como do pré-sal só ocorram na medida em que a demanda exista, interna ou externamente. O mundo passa por uma fase de baixo crescimento, lamentavelmente, e ainda que exista uma elevada demanda interna potencial no Brasil, parece indispensável que ela decorra das rendas decorrentes de produções adicionais de bens e serviços.
Como a Petrobras não conta com todos os recursos próprios para os investimentos para o aumento da produção do pré-sal, procura-se desobrigá-la da sua participação mínima de 30% nestes investimentos. Ainda que o pré-sal propicie produções adicionais a médio prazo, parece indispensável que se considere a tendência declinante do uso de combustíveis fósseis em todo o mundo, diante do aquecimento global que estaria ocorrendo, aumentando os problemas climáticos com os tufões de grande intensidade. Conjunturalmente, pode se obter recursos da exploração do pré-sal, mas parece que contar exageradamente com ela apresenta riscos elevados a longo prazo.
No noticiário econômico observa-se também um novo ânimo no setor agropecuário com as chuvas bem como preços atrativos no comércio internacional, notadamente de alguns cereais. Ainda que o setor rural brasileiro venha sendo nos últimos anos um importante sustentáculo da economia brasileira, há que se observar uma sensível mudança na agricultura mundial, com o uso de novas tecnologias e proporcionando aumentos sensíveis na produtividade.
Parece conveniente que os empresários rurais brasileiros não dependam exageradamente dos azares do clima, nem de uma especial situação dos preços de produtos agrícolas no mercado internacional. É preciso que o aumento da produção decorra de avanços tecnológicos para manter o Brasil competitivo com relação ao exterior, mesmo nas conjunturas desfavoráveis.
Temos insistindo neste site que não parece conveniente se utilizar do câmbio valorizado como forma de manter as pressões inflacionárias sob controle. As exportações brasileiras necessitam ter competitividade internacional e, na falta de outros incentivos, os câmbios devem ajudar na remuneração dos exportadores de forma estável no tempo, como está se procurando fazer em elevado número de países, inclusive desenvolvidos.
Parece que os empresários brasileiros e estrangeiros atuantes no Brasil precisam contar com a ampliação do mercado interno, utilizando as exportações somente como forma adicional. Todos os países emergentes, como a China e a Índia que contam com grandes populações, estão efetuando reformas para depender mais do que podem controlar com suas políticas, pois o mercado internacional está pouco atraente com tantos concorrendo e onde o crescimento da demanda é modesto.
Parece recomendável que o artificialismo deva ser utilizado somente de forma moderada. Parece imprescindível que as pesquisas que proporcionam novas tecnologias competitivas devam ser mantidas, mesmo se tratando somente de adaptações do que já vem sendo utilizadas no exterior.
A política econômica é uma arte que exige uma equipe governamental muito criativa, com jogo de cintura para ir se ajustando a todas as mudanças que estão ocorrendo no mundo.