O Livro de Michael Schuman Sobre Confúcio
24 de outubro de 2016
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais e Notícias | Tags: Confúcio e seus ensinamentos influenciaram muitos, confucionismo não é uma religião, o sucesso obtido pelo Extremo Oriente, uma justificativa de que nem tudo foi influenciado pelos ensinamentos ocidentais
Todos tendemos a ser mais simpáticos com trabalhos que apresentam posições mais semelhantes com os nossos pensamentos. É o caso do livro de Michael Schuman, publicado em português pela Três Estrelas com o título “Confúcio e o Mundo que ele Criou”. Os poucos artigos postados neste site sobre a influência deste grande pensador chinês que ensinou muito há cerca de 2.500 anos são confirmados pelo autor deste livro, com vivência no Extremo Oriente e estudioso das contribuições do filósofo.
Capa do livro editado pela Três Estrelas, São Paulo, 2016
O autor norte-americano de ascendência judaica é jornalista e trabalha como correspondente da revista Time na China. Ele acabou se casando com uma descendente de coreanos nos Estados Unidos. Ela fez questão de uma cerimônia tradicional coreana, influenciada pelo confucionismo. Havia um rito onde se demonstrava o profundo respeito pelo sogro e pela sua mãe, que são considerados como os transmissores da cultura para seus filhos. Como os professores são considerados hierarquicamente superiores pelos alunos. Não era hábito do autor reverenciar uma pessoa, dentro de sua tradição, mas o fez com certa reserva.
Toda a forma de organização social hierarquizada dos asiáticos influenciada por Confúcio representa cerca de um quarto da humanidade, maior do que o usual no Ocidente. Difere, por exemplo, da concepção democrática ocidental que tende a considerar a todos como iguais, por influências das revoluções francesa e americana, quando no Extremo Oriente prevalece à hierarquização na sociedade.
Entre muitos asiáticos, os ensinamentos de Confúcio estão tão disseminados nas suas culturas, que chegam a passar despercebidos. O autor entende que pouco de Confúcio é realmente conhecido no Ocidente e os asiáticos, principalmente os chineses, com recente importância no mundo, tendem a demonstrar que, além das influencias ocidentais, existem algumas de origem asiática os influenciando. É uma versão conveniente para a sua atual situação, cujas autoridades necessitam de respeito da população.
Os muitos Institutos Confúcio que estão sendo disseminados pelos chineses por muitos países, inclusive no Brasil, além de ensinarem o idioma chinês, procuram também transmitir parte dos ensinamentos do filósofo, que tem aspectos positivos como negativos, como sempre. O autor do livro chega a comentar que até a Bíblia tem aspectos hoje considerados retrógados, quando nos ensinamentos de Confúcio a mulher tende a ter uma posição secundária.
Confúcio viveu numa época complicada como a atual e suas reflexões procuravam entender o que estava acontecendo. Muitos dos conhecimentos atribuídos a ele são decorrentes de interpretações dos seus discípulos bem como de muitos autores que efetuaram leituras não totalmente fiéis aos originais, muitos exageradamente apaixonadas. Seus trabalhos mais conhecidos são os “Anacletos”. Ao longo da história, sempre aconteceu algo semelhante com as contribuições de antigos filósofos, como confirmam muitos teólogos estudiosos da Bíblia, que têm interpretações aceitas em diversos Concílios, diferindo até hoje da Igreja Apostólica Romana como dos ortodoxos e muitos evangélicos influenciados pelas Reformas.
Ainda não completei a leitura do livro e só pude examinar a sua Introdução e o Epílogo, que já apresentam variadas possibilidades. Voltarei brevemente ao assunto neste site depois de sua leitura completa, que apresenta riqueza de aspectos abordados. Para autor, Confúcio acreditava que se os membros de uma família compreendessem e cumprissem o papel que lhe era prescrito, o mundo inteiro se encontraria na devida ordem.
Suas regras gerais servem para as mais variadas situações, desde o funcionamento do Estado, das empresas e das famílias e acabam sendo interpretadas nos aspectos convenientes para os que estão no comando de instituições. Mas podem ser também interpretados de formas diferentes, havendo ensinamentos de Confúcio para todas as necessidades, ainda que seus aspectos morais possam ser bem aproveitados, não se concentrando em objetivos gananciosos. Os ocidentais precisam entender, segundo o autor, que a filosofia prevalecente no Leste Asiático é totalmente diferente desta parte do mundo, ainda que sempre existam aspectos a serem aproveitados.
No Ocidente, os acadêmicos e políticos estudaram os filósofos gregos como Aristóteles, Platão e Sócrates, a Bíblia e outras obras judaico-cristãs e pensadores como John Locke, Thomas Hobbes e Adam Smith e muitos dos seus seguidores. No Leste Asiático foram outros os pensadores, ainda que se dê destaque a Confúcio que não foi o único, podendo se lembrar de Lao-Tse, o fundador do taoismo. O que Confúcio ensinava era sabedoria da Antinguidade chinesa, em uma moralidade atemporal, segundo o autor do livro.
Schuman confessa que não é uma tarefa fácil descobrir o autêntico Confúcio, pois são muitas as versões de cada época, inclusive atribuindo-lhe qualificações religiosas. Também lhe são conferidos aspectos inconvenientes como a opressão das mulheres, o despotismo e o desencadear de crises econômicas, normalmente julgados sob padrões ocidentais. O livro procura cobrir Confúcio como homem, como sábio, como rei, como opressor. Dentro de uma família, como pai, como professor, como machista. Num outro ângulo, como empresário, como político e como comunista. Para terminar na procura do autêntico Confúcio.
Nesta profusão de versões, não parece possível chegar a uma só conclusão, para saber quem era o autêntico Confúcio. Tudo indica que se chega a muitos Confúcios diferentes, adequados para cada situação, ainda que o livro tenha utilizado uma vasta bibliografia, como se fora um trabalho acadêmico. Não deixa de ser estimulante.