‘O Museu do Silêncio’, de Yoko Ogawa
31 de outubro de 2016
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais e Notícias | Tags: ela obteve os principais prêmios literários japoneses, uma cativante obra que mostra toda a sua qualidade, uma jovem escritora de especial talento
Os muitos japoneses costumam ser ávidos leitores, fazendo com que o mercado de livros no Japão seja expressivo e a Editora Estação Liberdade têm se esforçado que parte importante desta produção literária de elevada qualidade também se torne disponível para os ainda poucos leitores brasileiros.
Capa do livro que acaba de ser lançado em São Paulo
Costumo contar com a gentileza da Editora Estação Liberdade no envio de um exemplar do livro traduzido para o português, que neste caso contou com o trabalho exemplar de Rita Kohl. A jovem autora de 54 anos já foi contemplada com os principais prêmios literários japoneses, como os prestigiados Akutagawa, Yomiuri, Izumi Kyoka e Tanzaki, que credenciam os melhores escritores japoneses.
Esta autora e sua obra do ano 2000 estão classificadas no gênero suspense, com mistérios e relatos impressionantes que não é a de minha preferência pessoal, mas o início de sua leitura mostra a mais elevada qualidade literária, cativante, com tradução exemplar não permitindo que o leitor se dedique a outros muitos afazeres até chegar a sua última página.
Ela já publicou cerca de 20 livros, entre ficção e não ficção, o que significa uma produção elevada de um por ano na sua vida adulta. “O Museu do Silêncio”, particularmente, procura ser universal, não atribuindo nomes aos personagens, nem especifica quando e onde ocorreriam os fatos narrados. Mas fica claro que se trata um produto típico da cultura japonesa, pelo trato natural de assuntos como a morte, as mudanças das estações do ano, descrições da natureza bem como os relacionamentos entre as pessoas, ainda que se trate de uma ficção elaborada na mente que pouco se relacione com uma realidade que tenha inspirado a obra.
O cuidado literário é evidente e de alto nível, com uma linguagem quase poética que não costuma ser usual no gênero de suspense. Nota-se que não se trata da busca de um impacto surpreendente, mas quase de um relato que estimula naturalmente o interesse dos leitores pelo drama onde os personagens estão envolvidos. É uma técnica que agrada até quem não é ávido pelo gênero, mas se deleita com uma boa leitura.
Não há uma procura do reconhecimento de sua formação intelectual como os exageros da marca pós-moderna de alguns autores, mas até menções do que é muito comum, como a de sua predileção pelo O Diário de Anne Frank, muitas vezes citado.
A leitura desta obra enriquece pela sua qualidade literária, com uma história muito original que cativa a muitos leitores.