Outros Aspectos do Livro Sobre Confúcio
25 de outubro de 2016
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais e Notícias | Tags: ensinando seus discípulos, possível homem que era Confúcio, procura de uma posição no governo
O livro de Michael Schuman é exaustivo na procura de dados confiáveis que permitam a avaliação isenta de Confúcio, começando pelas suas qualidades como ser humano, com todas as suas limitações.
Pintura tradicional de como teria sido Confúcio, possivelmente idealizado
Depois da Introdução, na primeira parte do livro de Michael Schuman sobre Confúcio, começa-se a descrever exaustivamente o que pode ser considerado confiável das muitas descrições sobre o filósofo, que viveu em torno do ano 500 a.C., iniciando pela sua qualidade de ser humano, diante de muitos escritos existentes sobre ele, a maioria não confiável. A primeira biografia completa foi do historiador Sima Qian, escrita cerca de 350 anos depois da morte do filósofo, mas, por ser ele um exagerado admirador de Confúcio, suas descrições podem ser tendenciosas. Poucos são os detalhes biográficos constantes no Analectos, que teria sido mais escrito pelos seus muitos discípulos. O autor do livro optou por um texto cheio de dúvidas, pois trata-se de um personagem que viveu a cerca de 2.500 anos passados na China, havendo muitas diferentes versões sobre sua vida, fazendo alguns paralelos com o que estaria na Bíblia.
O período era de grande convulsão social na China, semelhante ao que ocorre no mundo atual. Entre eles, as disputas do Estado de Lu com o Estado de Qi, na atual região da província de Shandong. Filósofos faziam suas reflexões sobre a situação, discutindo as possibilidades de saída das dificuldades, inclusive Lao-Tsé, fundador do Taoísmo. Confúcio teria tentado um cargo público para poder atuar na ajuda para as soluções, sem obter expressivo sucesso, acabando por se concentrar nos ensinamentos para os discípulos, que ficaram como contribuições relevantes para a posteridade, notadamente para a história da China e de outros países do Extremo Oriente. Diferem profundamente dos pensamentos ocidentais como já descrito no artigo postado, que se refere à detalhada Introdução, que faz um resumo de todo o livro.
Há versões de que ele tenha sido de família nobre bem como de origem humilde, mas não existem dados para precisar a informação. O fato concreto é que teve acesso à leitura dos clássicos chineses da época, como os que cuidavam do protocolo e das etiquetas, sendo capaz de se expressar de forma adequada nas conversas com as autoridades da época, mantendo numerosos discípulos que teriam chegado a três mil e o admiravam pelos seus conhecimentos e sua sabedoria. Confúcio gostava de ensinar e debater com eles.
Os mestres chineses costumavam se expressar com os poemas como os que foram aperfeiçoados pelos japoneses nos seus haicais. Apesar de Confúcio ter dado grande importância ao conceito de família nos seus ensinamentos, pouco existe sobre a sua própria. Ele teria viajado pela China Central, mas é difícil precisar os seus roteiros, supondo-se que tenha coberto parte substancial do país da época.
Seus ensinamentos estavam eivados de conceitos morais, como que expressava: “Não faça aos outros aquilo que não deseja que lhe façam”. No Analectos consta que o fundamental nas virtudes era a benevolência, caracterizado por cinco atributos: “respeito, tolerância, confiabilidade, diligência e generosidade”. Ele esperava mais de um rei do que de um indivíduo comum, para servir de exemplo. Para os nobres ele ensinava: “A conduta de um homem distinto é governada pelas regras do decoro”, o que parece adequado para os parlamentares brasileiros.
Os estudiosos sustentam que Confúcio escreveu a maioria ou a totalidade dos chamados Cinco Clássicos: o livro das mutações (segundo o autor, uma obra adivinhatória), o livro dos ritos (uma dissertação sobre práticas rituais), o livro dos documentos (sobre história chinesa antiga), o livro das odes (uma coletânea de poesias) e os anais da primavera e outono (um relato histórico do Estado de Lu). Eles tiveram uma incalculável influência sobre a civilização chinesa, segundo Michael Schuman. Junto com o Analectos, foram a base do ensino na China por cerca de dois mil anos.
Em futuros artigos a serem postados neste site, continuaremos enfatizando aspectos relevantes constantes no livro “O Confúcio e o Mundo que Ele Criou”, que merece ser lido na sua íntegra.