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Riscos Adicionais na Execução da Política Econômica

27 de outubro de 2016
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: dificuldades na política fiscal, erros já cometidos, necessidade de fortes resistências, uso do câmbio e dos juros para ajudar onde existe uma lacuna | 2 Comentários »

O Brasil já enfrentou problemas desta natureza, que tendem a provocar fracassos. Há necessidade de rápida correção para não voltar a utilizar o juro e o câmbio para a falta de rigor na execução da política fiscal.

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Dólar norte americano em níveis perigosos

Observando que o setor fiscal do governo brasileiro, com as pressões de diversos setores, continua incapaz de impor a austeridade, o Banco Central do Brasil permite que o câmbio continue se valorizando, prejudicando as exportações brasileiras e beneficiando as importações e gastos de turismo no exterior. Com isto, provoca a redução das pressões inflacionárias, subavalia as dificuldades que estão se acumulando e continua aumentando o desemprego no país. Ao mesmo tempo, existem controvérsias para a redução dos juros, com o receio de que haja um conflito negativo entre a política fiscal e monetária, problema já enfrentado no passado de triste memória, reduzindo a eficiência da política econômica.

Mesmo com o estabelecimento de um teto de gastos do governo em discussão, existem pressões para a manutenção dos privilégios dos funcionários públicos, que possuem uma forte influência no Congresso Nacional. Os discursos aparentam estar na direção correta, mas observa-se na prática que o governo é incapaz de demonstrar que realmente está cortando na sua carne, reduzindo as despesas ao nível da arrecadação em queda diante do aprofundamento da recessão econômica.

Apesar da forte “torcida” pelo governo Michel Temer, os fatos concretos estão mostrando todas as fortes resistências que predominam no Congresso Nacional e até no Judiciário. Na medida em que a contenção só ocorre no discurso e no papel, é natural que os empresários tenham ainda dúvidas para elevar os seus riscos, assumindo compromissos concretos para elevação dos seus investimentos, única forma de recuperação da economia, diante da incapacidade de investimentos públicos serem efetuados. A imprensa brasileira continua a fazer um “lips service”, falando somente o que poderia agradar ao atual governo.

Todos fazem promessas com recursos dos outros. O recente eleito prefeito de São Paulo promete um congelamento das tarifas dos ônibus, mas continua aumentando o noticiário na busca de assistência do governo federal para o buraco que seria criado. Comissões no Congresso aumentam os salários de algumas categorias de funcionários públicos, exigindo que o Executivo se empenhe na sua derrubada chegando até ao veto.

Não existem demonstrações de rigor com relação aos funcionários que continuam recebendo salários acima do teto legal, inclusive de muitos magistrados. Há uma evidente disputa dentro destes poderes, sem que ações concretas de austeridade cheguem ao conhecimento do público.

O Banco Central poderia ser mais drástico na redução dos juros, mas com o receio de contradição com o setor fiscal reserva-se a percentuais modestos de queda dos juros. A inflação acusa sensíveis recuos, diante do quadro recessivo da economia e as valorizações do câmbio, mas persistem os receios de que tais orientações não sejam sustentáveis, principalmente diante da falta de recuperação da economia mundial.

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Margaret Thatcher, exemplo de austeridade no governo do Reino Unido

Não há aparência de forte coerência na política econômica e as dúvidas em nada contribuem para sua maior eficiência, o que ocorre não somente no Brasil. O governo necessita convencer-se que tal quadro prejudica a sua imagem que já não é boa. Há que se contar com atitudes como a da saudosa Margaret Thatcher que, com sabedoria de dona de casa, manteve a austeridade até convencer a população inglesa que ela estava disposta a decisões firmes, mesmo com seu prestígio popular em queda, até ser reconhecida como a Madame de Ferro.


2 Comentários para “Riscos Adicionais na Execução da Política Econômica”

  1. Rodolfo
    1  escreveu às 14:13 em 27 de outubro de 2016:

    Sem Margaret Thatcher, a Inglaterra estaria no buraco. Como eu sei?
    Era o mais estatista e estatizado dos países europeus, decorrência das “conquistas” do Partido Trabalhista, criada por socialistas, sindicalistas e por intelectuais marxistas.
    A maior obra de Thatcher foi mudar o Partido Trabalhista, pondo um ponto final à ilusão, ao menos nas democracias europeias, de que o estado-empresário é o melhor indutor do desenvolvimento.
    Não é nenhum exagero afirmar que a Grã-Bretanha está há 34 anos sob os fundamentos que Thatcher reintroduziu na economia. E não há recuo possível. A sua última grande — enorme contribuição! — ao país foi dizer um sonoro “não” à Zona do Euro, que antevia como uma usina de crises, que teria de ficar sob a permanente regência da Alemanha. Como um único Banco Central haveria de arbitrar demandas de economias tão distintas? O presente, é evidente, lhe dá razão.
    As esquerdas, especialmente em nosso país, foram hábeis na campanha de demonização do chamado “neoliberalismo”, especialmente depois da crise de 2008. Querem o Estado como patrão da sociedade. É claro que o modelo não deu certo, diga-se a crise atual.
    Populista, o governo dava Bolsa Família de um lado e Bolsa Empresário de outro. Aloizio Mercadante, pensador daquele novo momento brasileiro, filosofou em entrevista ao Estadão que, para o povo, PIB se traduz por emprego e consumo. O crescimento não tem tanta importância.

    Uma Margaret Thatcher no Brasil parece coisa impossível. No desgoverno do PT criaram uma estatal das águas, “Hidrobras” ou coisa assim. O Estado gerenciando a sociedade era o lema, em vez de a sociedade gerenciando o estado.

    Ela foi uma grande mulher, uma das principais personagens de uma mudança na economia de efeitos planetários.

    Ao contrário de Lula e seus familiares, que ficaram ricos, Margaret Thacher morreu pobre.

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 09:37 em 28 de outubro de 2016:

    Caro Rodolfo,

    Obrigado pelos seus comentários.

    Paulo Yokota