Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Dificuldade Para Entender a Política Cambial Brasileira

16 de novembro de 2016
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: erro já cometido no passado, o uso do câmbio para contenção das pressões inflacionárias, prioridade na criação do emprego

Um grande número de países está desvalorizando o seu câmbio, notadamente com relação ao dólar norte-americano, visando manter a competitividade de seus produtos, tanto para a exportação como redução das importações, dando prioridade ao emprego interno.

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Gráficos constantes do artigo publicado no Valor Econômico

Ainda que o caso do setor de calçados na economia brasileira demonstre uma ligeira correção do câmbio nos últimos meses e venha registrando um aumento nas exportações, com um crescimento menor das importações, ajudando a criar empregos no Brasil, que deveria ser a máxima prioridade da política econômica, as autoridades brasileiras continuam se mostrando exageradamente cautelosas, com o receio de que a ineficiência do setor fiscal acabe provocando aumentos das pressões inflacionárias.

Isto já se registrou também no setor de brinquedos, onde a importação da China vem registrando uma pequena correção, e poderia também auxiliar o setor de confecções, todos intensivos em empregos locais. O nível do desemprego no Brasil é dos mais críticos, não permitindo o crescimento do mercado interno que poderia ajudar na sustentação de uma expansão mínima na economia. As autoridades exageram também nas preocupações dos juros internos altos, que dependem também de outros fatores.

A acumulação de reservas externas adicionais não seria prejudicial, pois poderiam aumentar os fundos soberanos que poderiam auxiliar no financiamento das exportações brasileiras. Ainda que houvesse alguma diferença nos custos, o emprego é a maior prioridade no momento, pois acaba gerando muitas outras dificuldades com gastos sociais. É também o que está ocorrendo em muitos outros países.

A recuperação dos investimentos no Brasil, tanto em infraestrutura como na expansão de outros setores, depende hoje do aumento dos dispêndios do governo, se possível de forma não inflacionária. Para tanto, há que se contar com as inversões do setor privado, mas sem uma perspectiva de recuperação da economia brasileira, nem num prazo mais longo haveria como estimular a economia, no mundo que continua ampliando suas incertezas.

O Brasil é hoje irrelevante na economia mundial e mesmo que muitos países estejam ampliando ligeiramente suas exportações e os produtos agropecuários brasileiros também possam ajudar na mesma direção, são os produtos industriais e os serviços que continuam relevantes no mundo. Sem a recuperação destes setores não há como criar empregos de qualidade para dos brasileiros.

Continuando a patinar como estamos sofrendo, as dificuldades políticas se estenderão por um prazo mais longo, multiplicando todas as ordens de dificuldades. Parece que é hora de deixar de dar prioridade para os interesses do setor financeiro, pois até o resto do mundo está abandonando estas orientações.