Exageros no Tudo ou Nada
23 de novembro de 2016
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: exageros em considerar que o mundo caminha sempre pelo tudo ou nada, existência de sistemas de check and balance, pragmatismo na vida real
Um artigo publicado no site do The Economist posiciona-se como se a confirmação de Donald Trump contra o TPP – TransPacific Partnership fosse um claro ponto de inflexão na tendência mundial que se observava até recentemente, mudando para uma de declínio do crescimento do comércio internacional, o que aparenta um exagero. A realidade não é tão simples que pudesse ser resumido em algo semelhante a um “tudo ou nada”.
Gráfico da quantidade de exportação que veio ocorrendo no mundo, mostrando um crescimento acelerado
É preciso entender que o TPP era um acordo amplo envolvendo grandes países desenvolvidos e outros em desenvolvimento, muitos fornecedores de produtos industrializados e outros de produtos primários, não satisfazendo a todos os segmentos econômicos dos diversos países. Todos estavam interessados no TPP considerando o forte apoio dos Estados Unidos que não contava nem com consenso entre os norte-americanos, tanto que até Hillary Clinton tinha se manifestado contrária. O novo governo de Donald Trump não deseja aprovar um acordo desta natureza, que entende prejudicar o emprego de muitos norte-americanos. O novo presidente vem afirmando que está disposto a estabelecer acordos bilaterais que lhes sejam convenientes.
Os acordos gerais como os promovidos pela OMC – Organização Mundial de Comércio não conseguem aprovações de todos. Parece que os acordos de livre comércio envolvendo menor número de países, mais uniformes, apresentam melhores possibilidades de aprovação consensual. O que parece indicar que os dirigentes de muitos países são favoráveis a acordos quando conhecem melhor os seus participantes e as vantagens que podem usufruir.
Não parece tão claro que a não aprovação do TPP vai determinar a tendência de redução do comércio internacional. Mesmo nos países que são mais a favor do mesmo existem setores temerosos às importações de produtos onde não são tão competitivos e que contam com fornecedores de longas tradições. O que parece existir é uma tendência nacionalista onde a França é um exemplo simbólico. O seu setor rural é considerado uma forma de vida e seus consumidores aceitam até pagar um pouco mais pelos produtos locais, por exemplo, pelo leite e seus derivados, ainda que possam importar por preços mais baixos.
Observando o que aconteceu com o Brexit e com a vitória de Donald Trump, parece que existem populações descontentes com a globalização exagerada, mas desejam efetuar acordos para obtenção de produtos que não impliquem no sacrifício dos empregos de suas populações. Não é fácil obter um acordo amplo, envolvendo muitos países e atendendo os desejos de todos.
Há que se considerar também que o desenvolvimento recente e rápido do comércio internacional veio ocorrendo com a participação da China, que apresentou um grande mercado adicional. Todos desejam exportar para aquele país, mas agora temem seus produtos industrializados que contam com uma grande capacidade produtiva, em parte ociosa no momento.
Alternativas de acordos de livre comércio sem a participação dos Estados Unidos
O que não parece pacífico é que as tendências futuras do comércio internacional só possam ser consideradas em função do TPP na forma atual. Tudo ainda vai depender de se chegar a mecanismos de livre comércio que resolvam as principais arestas e proporcionem o máximo de vantagens para os países participantes, existindo muitos arranjos possíveis, que exigem longas e pacientes negociações.
Já existem cogitações constantes do artigo do The Economist como a FTAAP – Free Trade Area of the Asian-Pacific com 21 países incluindo os Estados Unidos. Ou o RCEP – Regional Comprehensive Economic Partnership que incluem a China, a Índia, o Japão e os países do Sudeste Asiático. Mas, os mais fáceis de serem estabelecidos são os acordos bilaterais, onde os interesses comuns podem ser definidos mais facilmente.
O Brasil, que está fora de todas estas considerações deve procurar acelerar os entendimentos do MERCOSUL com outras regiões, como a Comunidade Europeia e o Japão, além de consolidar os entendimentos que já possuem com a China. Bem como acelerar os entendimentos com seus vizinhos mais próximos.