A Radicalização de Posições Políticas no Mundo
9 de dezembro de 2016
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: artigo do The Economist sobre a formação do governo de Donald Trump, o sistema de “check and balance”, os discursos e as restrições da realidade | 2 Comentários »
O mundo real costuma ser muito diferente do ideal formulado nas academias. O comportamento pragmático do Supremo Tribunal Federal para evitar problemas maiores entre o Executivo, Legislativo e o Judiciário no caso do Renan Calheiro é um exemplo.
Capa deste fim se semana da revista The Economist
Com base nas indicações dos principais auxiliares do presidente eleito Donald Trump, a revista inglesa de maior importância no mundo relata as preocupações com os discursos que continuam sendo proferidos por ele. Parece indispensável reconhecer que ele é um líder populista vaidoso, com forte tendência nacionalista, mas que poderá fazer muito pouco do que está prometendo. A realidade continua sendo restritiva e num país como os Estados Unidos existem formas de “check and balance”, não permitindo que o governo faça o que promete, tendo que se ajustar à realidade existente, como em todo o mundo. Donaldo Trump deve fazer o que pode, muito menos do que está falando.
Parece que existe uma exagerada radicalização no mundo que acaba sendo agravada pelo comportamento da mídia, mesmo internacional e de qualidade como do The Economist. No entanto, mesmo os líderes empresariais indicados constatarão que, uma vez nas suas cadeiras, podem fazer pouco do que desejariam, estando sujeitos às ações dos lobbies que são oficiais e poderosos nos Estados Unidos.
Ainda que muitos deles tenham feito declarações radicais, são empresários e líderes consagrados, conservadores, e imaginar que se tornaram “loucos” aparenta ser uma subavaliação perigosa, que pode funcionar para efeitos eleitorais, mas difíceis de ser implementados dentro de uma realidade mais complexa. Pode valer como propaganda, mas não costuma servir para administrar um grande país.
Este tipo de fenômeno não ocorre somente nos Estados Unidos, como no Brasil, na Europa e na Ásia. As análises estão baseadas nas notícias rápidas, mas pouco profundas. A eleição norte-americana mostrou que existe uma grande massa silenciosa que está insatisfeita com o que veio sendo feito pelos democratas, pois as distribuições dos benefícios dos desenvolvimentos foram desiguais. Uma parte desta distorção será corrigida, mas pouco. Não há possibilidade de bruscas mudanças radicais, tudo leva muito tempo.
No Brasil também se fica com a impressão de uma confusão geral, o que pode acontecer na superfície deste imenso país. Mas o setor rural mudou pouco e mesmo avanços na sustentabilidade são menores do que os desejados. A educação não se alterou, como a situação da saúde, os gastos do governo continuam elevados, com o setor privado ainda pouco resistente, os comportamentos dos municípios e dos Estados limitados. Vai demorar muito para que as “reformas” desejáveis sejam realizadas.
Mesmo na China, onde o tipo de democracia liberal ocidental é limitado, mesmo com o uso parcial dos mecanismos de preços, com uma forte concentração do poder em torno do presidente Xi Jinping, as reformas são difíceis, quanto mais no Brasil que tem uma democracia ainda infante. As mudanças são bem mais lentas do que seriam desejáveis.
Paulo fico pensado, o que pode acontecer na economia do Brasil se o FED resolver aumentar os juros …
Caro Mauricio Santos,
Acredito que o FED já está se preparando para aumentar os juros, mas tudo indica que fará de forma cautelosa, pois mesmo com o emprego elevado o resto da economia ainda não dá sinais de recuperação sustentável, havendo incertezas sobre os efeitos dos discursos radicais de Donald Trump. Seus principais auxiliares são experientes e naquele país existe um mecanismo de “check and balance”, mas o resto do mundo também não está muito firme. No caso brasileiro, apesar dos pesares, somos menos dependentes dos Estados Unidos e poderíamos desvalorizar um pouco mais o nosso câmbio como outros países já fizeram.
Paulo Yokota