Dois Trabalhos do Consagrado Jun’Ichiro Tanizaki
26 de dezembro de 2016
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais e Notícias | Tags: contribuições da Editora Estação Liberdade, dentro da melhor tradição japonesa, dois trabalhos distintos e curtos num só livro
Os intensos afazeres do dia a dia nem sempre permitem que se façam as leituras mesmo rápidas de importantes trabalhos e as proximidades das festas proporcionam a oportunidade para colocar em dia algumas leituras relevantes.
Capa do livro de Jun’Ichiro Tanizaki editado pela Estação Liberdade, São Paulo, 2016.
Desde o estupendo sucesso do livro em português sobre Miyamoto Musashi, a Editora Estação Liberdade vem publicando regularmente importantes obras de consagrados autores japoneses. Como já chamaram a atenção Joseph Needham, da Universidade de Camdbrige, e mais recentemente David C. Kang “East Asia – Before the West”, Columbia University Press, New York, 2012, o Ocidente conhece pouco da cultura asiática e japonesa, apesar de sua importância atual. Parte desta lacuna está sendo preenchida pela Editora Estação Liberdade.
Neste livro, duas obras curtas de Jun’Ichiro Tanizaki estão sendo publicadas juntas. A primeira leva o título “A Gata, um Homem e Duas Mulheres” e relata na tradição da literatura japonesa o cotidiano das convivências entre as pessoas com observações importantes e relevantes sobre os problemas sempre existentes, como os que viveram no Japão percebem como características japonesas. A equipe de tradução comete algumas imprecisões perdoáveis decorrentes da falta de vivências longas no Japão, como quando chama de conserva o que ficaria melhor como marinado de cavalinha, para citar um exemplo.
No segundo, “O Cortador de Juncos”, apesar de publicado originalmente alguns anos antes, faz um profundo e importante apanhado da técnica do “michiyuki”, que vem das peregrinações dos monges budistas que absorveram estes estilos da tradição chinesa, passando por tudo que são formas de manifestações culturais relevantes do Japão, desde a época do “Genji Monogatari”, muito bem enfatizado pela competente tradutora Maria Luisa Vanik Porto na sua introdução como nas notas de rodapé.
É interessante que naquela época, os anos 1930 do século passado, muitos autores japoneses publicavam seus artigos em capítulos para serem aproveitados pelos jornais. Também se tomava conhecimento do que acontecia principalmente na Europa, cujos costumes estavam sendo introduzidos no Japão, que como arquipélago mantinha uma cultura com características próprias, apesar das influências do China e do resto da Ásia. Mesmo com o relativo isolamento por séculos do Japão, interrompido na Era Meiji, hoje se sabe que ele tinha formas de burlar a orientação oficial, inclusive com regiões que não eram somente da Ásia. Também a Europa “descobriu” o Japão a partir de meados do século XIX, e houve intercâmbios que nem sempre ficaram conhecidos e que agora estão sendo descobertos.
As publicações das obras de autores japoneses acabam mostrando que, mesmo ricos em suas características nipônicas, muitos já haviam absorvido o que vinha ocorrendo no resto do mundo, efetuando adaptações importantes para os leitores locais. Na realidade, parece que existem problemas universais envolvendo os seres humanos que são identificados por mentes privilegiadas e que acabam interessando até aos leitores menos assíduos.
Como o mundo e o Japão estão com as mudanças aceleradas, ainda que aparentando certa superficialidade com a prioridade para a velocidade, observa-se que o que é realmente relevante resiste ao tempo.