Carlos Ghosn Educado no Líbano (3)
4 de janeiro de 2017
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais e Notícias | Tags: educação secundária no Líbano, formação multirracial, uso da língua francesa
Na continuidade do relato de Carlos Ghosn para o Nikkei Asian Review, ele tinha se mudado da Amazônia para o Rio de Janeiro por razões médicas, mas não apresentava melhoras na saúde e decidiu retornar ao Líbano com sua mãe e irmã mais velha, deixando seu pai no Brasil, a quem visitava com frequência.
Ele estudou o secundário na escola jesuíta Notre Dame, que proporcionava uma formação multicultural, em Beirute, que já estava independente da França desde 1943
O Líbano passava por transformações, diferindo muito de quanto seu avô imigrou para o Brasil, chegando a ser considerado a Suíça do Oriente Médio. Ghosh fez o secundário na escola dos jesuítas Notre Dame, que contava com professores libaneses, sírios e egípcios, continuando a usar o francês como o idioma básico. Apesar de bom aluno, tinha muita energia para despender, sendo considerado com um espírito até problemático, como é comum a muitos jovens. Ele apreciava história, geografia e línguas.
Tudo isto mostra que os libaneses com habilidades comerciais permitiram a rápida ascensão social dos imigrantes, de forma diferente dos japoneses que continuaram como pessoas de classe media, com raríssimas exceções, não permitindo mudanças para outros países como o Líbano ou a França para a educação dos seus filhos, ainda que eles procurassem cidades onde haviam escolas a serem frequentadas pelos seus filhos e depois Universidades brasileiras para a obtenção do grau superior.
Ele apreciava a leituras da fábula de Jean La Fontaine, que era também ministrado no Brasil. Muitos não sabem que a segunda língua depois do português no Brasil era o francês, que precedia ao ensino do Espanhol ou do Inglês nos cursos secundários, o que também me levou às mesmas leituras. Um professor de sua lembrança foi o padre Lagrovale que já de idade avançada era considerado por muitos como um pai com muita sabedoria.
Uma coisa que Carlos Ghosn aprendeu na escola secundária foi a importância de expressar suas ideias de forma concisa. O padre Lagrovale o ensinava que quando se faz tudo de forma complicada é porque não se sabe nada. No Brasil, neste período, muitas escolas públicas dos cursos secundários tinham relevância, havendo também algumas particulares, entre elas sustentadas pelos religiosos.
Sua mãe, que tinha uma forte tendência francófila continuou o influenciando, principalmente para a continuidade dos estudos que acabou ocorrendo num curso superior na França para melhor aproveitamento pessoal. Há que se explicar que também na Universidade de São Paulo, organizada com a participação da Missão Francesa, a orientação acabou sendo muito humanística, o que veio a ser modificada muito depois, com o aumento da influência dos Estados Unidos, que tinha uma orientação de maior especialização do conhecimento.
Carlos Ghosn apreciou muito os 11 anos que passou no Líbano, onde deixou muitos amigos que mantém até hoje. Indo para a França, estava mudando novamente seus horizontes, como certamente será verificado nos depoimentos posteriores. Pode-se acrescentar que nesta época, também no Brasil, Paris era considerado a capital do mundo, o que nem sempre é entendido na Ásia e atualmente, dado a importância que foi adquirida pelos Estados Unidos no mundo depois da Segunda Guerra Mundial.