Economia dos EUA é Um Desafio Para os Analistas
8 de janeiro de 2017
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política | Tags: baixo desemprego e ganhos de salários por hora, derrota eleitoral do governo, indícios da má distribuição da renda, informações do The Wall Street Journal e do The Economist
Os dados de dezembro da economia norte-americana indicam que o desemprego continuou caindo, chegando a 4,7%, o mais baixo pela primeira vez depois de muitos anos, com um aumento do salário de 2,9% sobre o mesmo mês do ano anterior, o melhor resultado desde 2009. Os analistas sempre acreditaram é que uma boa situação econômica determinava bons resultados eleitoral para a situação, o que não aconteceu naquele país. O que não funcionou?
Gráfico publicado no artigo do The Wall Street Journal mostrando que a folha de pagamento continuou crescendo, cuja leitura integral é recomendada
O cuidadoso artigo de Eric Morath e Ben Leubsdorf publicado no The Wall Street Journal informa que o último mês de dezembro, o derradeiro do mandato do presidente Barack Obama, veio registrando por 75 meses seguidos um aumento do emprego. O desemprego, que era de 10% quando ele assumiu o governo, fenômeno só com registro em 1939. Ainda que a taxa de crescimento da economia em termos anuais tenha decrescido para 2,1%, o mais baixo desde 1949, o que explica a cautela do FED – Banco Central dos Estados Unidos que vem elevando só discretamente a taxa de juros. Não há sinais de que os salários estejam pressionando a inflação que se mantém baixa.
Há uma falta de recursos humanos preparados naquela economia e uma interessante pista para entender o que poderia estar acontecendo com consequências eleitorais é que os salários dos novos empregados estão subindo mais rapidamente do que dos antigos, deixando muitos insatisfeitos entre eles. Os salários dos empregados modestos da classe média, que estão envolvidos também em problemas de custo da educação e saúde, subiram somente 1,8% com relação a dezembro do ano anterior.
Gráfico publicado no artigo do site do The Economist, cuja leitura da íntegra é recomendável
Para acrescentar dados, segundo o The Economist, o mercado de trabalho nos Estados Unidos vem crescendo por cinco anos seguidos e os salários médios aumentou 2,9% em dezembro último com relação ao mesmo mês do ano anterior, o que acaba dando uma sensação de que esta melhoria é modesta demais.
Este site já informou que o grupo que está assessorando Donald Trump teve o mérito de identificar em alguns Estados estratégicos eleitoralmente a insatisfação de alguns eleitores e os discursos radicais da campanha foram a eles dirigidos, conseguindo como resultado a vitória. As críticas que foram efetuadas na campanha, de má situação econômica, inclusive com a piora da distribuição de renda, terão que ser reformuladas diante do que aconteceu com os dados de dezembro último, mesmo parcialmente.
Se os democratas foram derrotados nas ultimas eleições norte-americanas, não se deveu somente à rejeição de Hillary Clinton, pois no Congresso, tanto na Câmara dos Representantes como no Senado, os republicanos ficaram com a maioria e nem todos eles concordam plenamente com Donald Trump. Apesar de Barack Obama gozar de um razoável prestígio, o fato concreto é que aparentemente ele não conseguiu entender plenamente o que acontecia em sua profundidade na economia daquele país. Mesmo sabendo que o presidente não pode fazer tudo que deseja.
Além da parte mais modesta da classe média daquele país estar ainda endividada, sua situação não melhorou quanto aos do top daquela sociedade, principalmente os que causaram os problemas mundiais de 2007/2008. O sistema educacional como de saúde não consegue atender a todos como desejável. Há também uma insatisfação entre os militares e, como também temos insistido neste site, os avanços nas pesquisas básicas e nas universidades de maior prestígio não foram como no passado mais longínquo, com a redução do ritmo de concessão de recursos para tanto.
Lamentavelmente, Barack Obama, mesmo com o prestígio que tem em alguns segmentos dos Estados Unidos, com análises pouco profundas não parece que ficará para a história entre os grandes estadistas que já passaram pelo comando daquele importante país, que ainda lidera muitos aspectos no mundo, mas continua reduzindo a sua influência internacional, tendo que contar com ajudas crescentes dos seus aliados, notadamente nos fronts onde ocorrem problemas no mundo.
Donald Trump está escolhendo muitos ricos e duvidosos auxiliares para a sua equipe de governo, sua forma exagerada de se expressar e a forte oposição dos mais jovens, inclusive de uma imprensa que destaca os fatos superficiais e traumáticos, não dão indicações de que os grandes problemas dos Estados Unidos, que continuam liderando o Ocidente, estejam sendo equacionados de forma adequada, apesar disto ser sempre difícil. Espera-se que os setores básicos daquele país, competentes com visões de longo prazo, comecem a atuar pressionando o governo e o Congresso sem exagerarnos esforços de segurança internacional que são de custos elevados. Tanto a Rússia como a China parece moderar os seus gastos no setor, conscientes que uma corrida armamentista num quadro modesto da economia mundial possa ser desastrosa.
Administrar sempre será uma escola de prioridades e espera-se que optem pelos que proporcionem melhoras para as populações modestas de todo o mundo, pois, apesar da economia de mercado continuar permitindo o desenvolvimento com liberdade política, ela só é sustentável com a melhor distribuição dos benefícios da melhoria do bem-estar entre todos.