Uma Exagerada Polarização de Posições no Mundo
31 de janeiro de 2017
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias | Tags: acelerado com as declarações e decisões de Donald Trump, exemplo do artigo do Nikkei Asian Review que costumava ser cauteloso, mas já vinha acontecendo na Europa e no resto do mundo
Observando-se o noticiário internacional, nota-se com facilidade que há uma evidente radicalização de posições políticas em todo o mundo, que parece ter sido acelerada pelas declarações e decisões polêmicas do presidente Donald Trump, mas que já davam indícios de problemas antes na Europa e no resto do mundo, que eclodiram com o Brexit, por exemplo.
Presidente Donald Trump, numa foto publicada na Gazeta online
Quando um site como o do moderado Nikkei Asian Review publica um artigo como de Tomoyuki Kawai informando que a comunidade científica dos Estados Unidos está meramente cética ou francamente consternada, com o que o presidente Donald Trump vem declarando e decidindo, parece um sinal claro da radicalização que está se acelerando. O artigo menciona que só se viu por hora a ponta do iceberg, havendo uma lista de assuntos que possam abalar o mundo.
Na realidade, até onde pode ser percebida, havia uma deterioração nos últimos anos da administração de Barack Obama que vinha limitando a alocação de recursos para os setores de pesquisa como de ensino universitário, que elevaram os Estados Unidos como o líder mundial em inovações depois da Segunda Guerra Mundial. As condições atuais são bem diferentes e mesmo com uma ligeira recuperação da economia norte-americana, com baixos índices de desemprego e inflação reduzida, o fato objetivo é que havia um grupo expressivo de descontentes entre os seus eleitores, a ponto de permitir a vitória dos republicanos. A distribuição dos benefícios dos avanços econômicos estava desigual, provocando uma forte concentração de renda, deixando parte da população endividada, sem condições de honrar os empréstimos que tinham contraído.
Temos mencionado neste site, estudos de revistas científicas como do Science e Nature que figuram entre os mais confiáveis informando que em muitos setores os Estados Unidos estavam sendo superados nas novas pesquisas. Donald Trump incluiu na sua fala inaugural que pretende “desvendar os mistérios do espaço”, contestado na sua viabilidade por alguns cientistas norte-americanos, como consta do artigo no Nikkei Asian Review, como se fora uma mera retórica, diante da falta de recursos para tanto. E que comandaram outros setores do conhecimento humano.
Os cientistas norte-americanos temem que as pesquisas sobre o câncer, as células tronco e outras prioridades médicas que vinham sendo comandadas pelo vice-presidente de Obama, Joe Biden, sejam interrompidas pelo novo no posto, Mike Pence, um cristão conservador. Há discussões sobre as vacinas e seus efeitos que podem se constituir também em problemas.
A ciência do clima é outro campo onde o novo governo parece estar reduzindo a prioridade, inclusive com a recomendação que os estudos efetuados não sejam divulgados em seus resultados preliminares. Sente-se uma restrição genérica sobre assuntos que envolvam investimentos nas questões relacionadas com o aquecimento global. São aspectos usuais na mudança das administrações, mas são assuntos que se tornaram cruciais no mundo atual, envolvendo a necessidades de esforços de muitos outros países.
Há discussões sobre o papel da imprensa que, se de um lado estava totalmente livre, os membros do novo governo parece pretender que prevaleçam as suas interpretações, inclusive sobre o número banal de manifestantes contrários às orientações de Donald Trump. Se isto está ocorrendo nos Estados Unidos, também na Europa cada vez mais dividida repete-se o cenário, inclusive com indícios de radicalização.
Os quadros no Oriente Médio, na Ásia e em outras regiões também são influenciados pelo que se divulga em todo o mundo, com rapidez, emoções, mas com análises com menor profundidade. Acaba restando o clima que proporciona um sentido exagerado de radicalização, que em nada ajuda a resolver os graves problemas pelos quais passa a humanidade. Parece recomendável que haja um pouco mais de serenidade, mesmo sendo difícil indicar como.
Parece ser a hora de valorizar as opiniões balizadas de pensadores consagrados, que vieram acumulando seus conhecimentos quase filosóficos em todas estas últimas décadas, que possam orientar a todos que anseiam por colocações mais inteligentes, mesmo que também do caos possam ser retiradas importantes lições.