A Pauta das Conversas Entre Abe e Trump

10 de fevereiro de 2017
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: assuntos econômicos, espera-se que Abe não se impressione com a veemência de Trump, segundo o Yomiuri Shimbum, uma conversa franca | 2 Comentários »

Os jornais japoneses, como o Yomiuri Shimbun, costumam estar bem informados sobre os assuntos que devem ser discutidos pelos dois líderes do Japão e dos Estados Unidos.

Assuntos principais que devem estar na pauta das conversas entre Shinzo Abe e Donald Trump, segundo o Yomiuri Shimbun

Há um razoável consenso entre os analistas que os principais assuntos da pauta das conversas entre o primeiro-ministro Shinzo Abe com o presidente Donald Trump coincidem com a lista constante do artigo publicado no Yomiuri Shimbun, que está em termos muito genéricos, podendo haver algumas pequenas diferenças.

No assunto relacionado com a indústria automobilística, as reclamações dos Estados Unidos se concentram na impossibilidade de produtos norte-americanos terem acesso ao mercado japonês. Mas isto decorre, em grande parte, do fato dos veículos produzidos naquele país são normalmente de grandes dimensões, quando o mercado japonês prefere mais os compactos que se ajustam melhor às suas ruas e estradas, tanto que os europeus são importados pelos japoneses. As exportações japonesas para os Estados Unidos, ou de produções como as efetuadas no México, são menores em quantidade do que os japoneses produzem naquele país, ajudando na criação de empregos locais de boa qualidade. Os veículos japoneses são preferidos pela exigência de menos manutenção e os serviços para tanto são eficientes. Para o aumento da produção nos Estados Unidos há que se contar com muitos componentes importados. Talvez se atinja um acordo estabelecendo algumas metas específicas.

No que se refere ao comércio, o atual governo dos Estados Unidos é contra acordos gerais, como o TPP – TransPacific Partnership, e a favor de acordos bilaterais. O Japão não pode forçar a participação dos Estados Unidos em qualquer acordo e sua tendência como a da Austrália e outros países é adaptar estes acordos sem a participação norte-americana e até a possibilidade de inclusão da China, que poderia gerar um problema político. Algum tipo de acordo que facilite o comércio internacional tem alguma chance de ser aceita pelas duas partes.

O problema do câmbio é mais complexo, pois os Estados Unidos e seus aliados no passado impuseram aos japoneses o Acordo de Plaza, que ajudou a manter o Japão estagnado por cerca de duas décadas, do qual os japoneses tentam sair com o “easing monetary policy”, criada pelos norte-americanos, sem ter uma posição de provocar a desvalorização cambial. Esta é uma matéria complexa e mesmo existindo muitos acreditando que o câmbio dependa do mercado, na realidade são os fluxos financeiros internacionais que não estão sendo controlados, e o comércio não o seu determinante.

O que o resto do mundo espera é que, se as conversas forem razoáveis, outros aspectos da política econômica internacional colocados pelo governo Donald Trump também entrem em ritmo de negociações menos emocionais e mais racionais, o que poderia criar também um clima favorável para países como o Brasil.