Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Governo Brasileiro Coloca a Agricultura em Alto Risco

10 de fevereiro de 2017
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: a agricultura era o setor que vinha proporcionando os melhores resultados no Brasil, está sendo sacrificada pelo câmbio valorizado, mudança no cenário internacional, urgência na necessidade de revisão da política do governo

O governo federal brasileiro com sua usual miopia ameaça matar a galinha dos ovos de ouro, agravada pelo cenário internacional que já se reverteu.

image

Gráfico e tabela constante do artigo publicado no Valor Econômico que vale a pena ser lido na sua íntegra

Os profissionais um pouco mais experientes sabem que entre os preços mais importantes da economia está o câmbio, que dá um efeito direto no setor privado como se fosse uma injeção na veia. Com os elevados compromissos em moeda estrangeira de bancos como muitas grandes empresas cujos ativos não mais existem, o governo vem mantendo o câmbio valorizado para evitar um risco sistêmico com desastres na economia brasileira e mundial. Iludem a opinião pública como se as quedas da inflação fossem resultado da eficiência de sua política. Dão uma assistência exagerada premiando os principais responsáveis pelas muitas mazelas na economia enquanto sacrificam os produtores locais e exportadores, como os agricultores, que ajudam a criar o emprego direto no Brasil por meio dos setores de serviços e agroindústrias, vitais para a recuperação da economia brasileira.

Ainda que os empresários ligados ao setor rural já estejam habilitados a avaliar o que acontece no mundo e no Brasil, como mostra com seus índices de confiança que começam a indicar suas preocupações, as autoridades estão, lamentavelmente, com suas atenções centradas nos graves problemas que ocorrem nos meios urbanos. O artigo de Fernando Lopes publicado no Valor Econômico é um importante alerta que as autoridades precisam levar em conta.

Ao mesmo tempo, no cenário internacional ocorrem significativas mudanças, como estão sendo alertadas pelo importante artigo de Isis de Almeida e Agnieszka de Souza, publicado no site da Bloomberg.

image

Gráfico das principais operadoras no mundo com produtos agrícolas, constante do artigo na Bloomberg que vale a pena ser lido na sua íntegra

Quando o mundo aumenta a sua produção dos principais produtos agrícolas, as grandes “majors” tradicionais que operam neste mercado ficam com suas margens reduzidas, enquanto os preços caem e os riscos aumentam. Difere totalmente do longo período passado em que a escassez proporcionou preços compensadores para os produtores como intermediários, beneficiando até o Brasil.

As informações que mesmo estas tradicionais operadoras no mercado mundial já registram prejuízos ou resultados abaixo do esperado, o que deve prejudicar, a médio prazo, os produtores se as autoridades não tiverem a visão para se antecipar aos problemas, quando usualmente chegam atrasados.

Não se está tratando de pequenas empresas inexperientes, mas de gigantescas e tradicionais como a Cargill, a ADM, a Louis Dreyfus, a Bunge e outras que já operam com eficiência há mais de um século. Quando elas começam a registrar prejuízos ou quedas nos seus resultados, a conta vai acabar chegando aos produtores. O artigo da Bloomberg enumera com cuidado os casos que já são problemáticos.

Há que se conter, também, o entusiasmo dos brasileiros com a safrinha de milho que está se mostrando promissora em quantidade, mas que pode resultar em preços e rendimentos pouco convenientes. O setor rural que veio sustentando a economia brasileira, ajudando sensivelmente na queda da inflação, chega numa hora que merece uma atenção desdobrada das autoridades, dando ouvidos aos alertas que parecem alarmantes.

Não se pode abusar do câmbio como instrumentos para outras finalidades, como vem se verificando no Brasil e no mundo. O mandato do atual governo é muito curto, mas o desastre no seu setor rural, se não corrigido em tempo, pode ocorrer ainda neste governo, agravando os já complexos problemas que já existem.

Espera-se que não ocorra algo como o Baile da Ilha Fiscal.