Governo Japonês e o Relacionamento Com Donald Trump
4 de fevereiro de 2017
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: agenda bilateral difícil, evitando os ataques diretos aos problemas mais profundos, necessidade de diversificação, subterfúgios como aproveitamento das experiências dos EUA | 2 Comentários »
Um artigo de Tetsuya Saito publicado no site do Nikkei Asian Review é um exemplo claro que o governo de Shinzo Abe procura um subterfúgio para a agenda dos entendimentos com Donald Trump em vez de atacar diretamente a dependência exagerada do Japão em relação aoé Estados Unidos. Isto ocorre tanto no seu comercio internacional como na defesa externa, exigindo reduzir esta dependência por uma diversificação difícil de se obter. (Foto publicada no artigo do Nikkei Asian Review mostrando Shinzo Abe preocupado com Donald Trump)
Todos sabem que o Japão está numa situação muito difícil do ponto de vista político-militar como econômico, dada a sua exagerada dependência dos Estados Unidos, que só poderia ser resolvida com a sua redução mediante da diversificação complexa a outros parceiros no mundo, como a China, a Coreia do Sul, a Austrália e os demais países do Sudeste Asiático. Quando o novo governo de Donald Trump tende para um nacionalismo-populista, colocando os interesses norte-americanos em primeiro lugar, abdicando das alianças estratégicas com seus tradicionais parceiros como o Japão e os países da Europa, não restaria aos japoneses senão reduzir esta dependência, ainda que seja um processo complicado. No entanto, o artigo publicado no site do Nikkei Asian Review deixa claro que o governo de Shinzo Abe estaria procurando extrair lições da experiência norte-americana, como as insatisfações de parte de sua classe média que resultou na vitória política de Trump. Ou do boom que se seguiu à vitória de Ronald Reagan que se esgotou depois de alguns anos, quando a velocidade dos acontecimentos está reduzindo o prazo para os atuais. A Bolsa já dá sinais de estabilização e o câmbio do dólar deve caminhar também para a estabilidade depois de uma rápida valorização ou pode ocorrer até a desvalorização da moeda norte-americana, necessária para as contas comerciais dos Estados Unidos razoavelmente equilibrada. Estes assuntos estariam sendo estudados pelo ministro Yoshihide Suga que prepara a agenda da reunião dos dirigentes máximos dos dois países nos próximos dias.
O editorial dedicado pelo Nikkei Asian Review às contribuições de Carlos Ghosn evidencia que os japoneses tendem a serem lentos nas grandes mudanças indispensáveis e o mesmo deve acontecer com a situação atual com relação aos Estados Unidos. Quando da presidência de Ronald Reagan, o Acordo de Plaza determinou a substancial valorização do yen, que manteve o Japão estagnado por mais de duas décadas. Está se procurando contornar o atual desconforto de parte da classe média com a melhoria da situação dos trabalhadores temporários que não se beneficiam das gratificações como os de carreira no Japão.
Procura-se também aproveitar as lições que Winston Churchull deixou no tratamento da classe média, quando o avô de Shinzo Abe, Nobusuke Kishi, estava como primeiro-ministro no Japão. Tudo isto ajuda os japoneses, mas não resolve os problemas fundamentais da exagerada dependência aos Estados Unidos, do ponto de vista econômico como de defesa externa.
Tudo indica que se o Japão não enfrentar estes seus difíceis problemas, o país tenderá a continuar estagnado economicamente por outras décadas e com consequências sobre o seu papel internacional no equilíbrio militar mundial, lamentavelmente. Como isto não é desejável, parece que o Japão será forçado a enfrentar a necessidade de maior diversificação de suas relações comerciais e aumentar os seus relacionamentos com os outros potenciais aliados militares, reduzindo a dependência aos Estados Unidos.
Ola Paulo sobre a politica no Japão por acaso lá também tem alguma personalidade tipo “salvador da patria” que nem o Trump?
Caro Mauricio,
Os japoneses são conservadores em matéria de política. A única novidade expressiva é que muitas mulheres estão ocupando posições de destaque, como a Governadora de Tóquio, a líder do principal partido de oposição, e no governo a Ministra da Defesa. o que era difícil até recentemente. São boas comunicadoras pois as duas primeiras trabalharam na TV, contando com prestígio popular.
Paulo Yokota