Uma Parte da Política Externa é Um Mero Teatro
12 de fevereiro de 2017
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias | Tags: as relações entre os Estados Unidos e o Japão no governo Donald Trump, Donald Trump pode ser louco, mas não rasga nota de US$ 100, o red carpet estendido ao primeiro-ministro Shinzo Abe
Os japoneses fingem acreditar em tudo que Donald Trump afirmou para Shinzo Abe e os norte-americanos fazem gestos que custam pouco, mas extraem parte das vantagens que podem usufruir do Japão, mesmo que nem sempre possam entregar tudo com o qual se comprometem. Todo este teatro é conveniente para ambas às partes.
O casal Donald Trump convidou o casal Shinzo Abe para a viagem de Washington à Florida no Air Force One, um gesto que vai ser explorado pelo primeiro-ministro japonês como tratamento muito especial. Foto constante no artigo do Yomiuri Shimbun
Além da entrevista oficial e genérica em Washington, onde os dois líderes manifestaram que os japoneses e os norte-americanos continuam intensificando suas alianças, inclusive militares, Donald Trump procurou marcar que está estendendo o red carpet para Shinzo Abe. Ele convidou Abe a viajar no Air Force One, de Washington para a Flórida, proporcionou um jantar no campo de golf Trump onde o primeiro-ministro passou a noite e jogou uma partida neste sábado, que propiciou tempo para conversas informais, que aumentam os conhecimentos recíprocos, tudo por conta do governo norte-americano. Para os norte-americanos, isto custa pouco, mas os efeitos que podem provocar aumentam as chances de obterem dos japoneses os investimentos para a ampliação da produção e do emprego nos Estados Unidos e até o aumento da participação japonesa nos custos de manutenção das tropas estacionadas no Japão, que já é elevada, entre outras despesas expressivas.
Jantar oferecido pelo presidente Donald Trump ao primeiro-ministro Shinzo Abe e senhora, no Trump Mar-a-Lago, em Palm Beach, na Flórida. Foto publicada no artigo do Japan Today
O ponto crucial das exportações japonesas de produtos que podem ser fabricados nos Estados Unidos é do setor automobilístico, onde a produção local das montadoras japonesas já é superior ao que é exportado para aquele país. No entanto, para atender os desejos de Donald Trump, as empresas japonesas estão dispostas a efetuar investimentos adicionais e aumentar a produção local, que depende da importação de componentes, além do câmbio influir na sua rentabilidade. De qualquer forma, os japoneses podem aumentar o emprego de boa qualidade nos Estados Unidos, com o decorrer do tempo, mesmo com o prejuízo do que hoje é feito no México.
Presidente Donald Trump jogando golfe com o primeiro-ministro Shinzo Abe. Foto da Kyodo, publicada no The Japan Times
Outro aspecto fundamental é a cobertura militar que os Estados Unidos fornecem para o Japão, que não dispõe de equipamentos nucleares. Além do acordo desde o término da Segunda Guerra Mundial, que é o fornecimento de local para o estacionamento das tropas norte-americanas e todas as condições para o seu funcionamento, como energia elétrica, água e comunicações, os japoneses já arcam com a maior parte dos custos até dos salários destes militares. O que parece ser alvo de possibilidade é que este custeio de recursos humanos venha aumentar, apesar das resistências dos japoneses.
Tudo indica que os japoneses não possuem muita alternativa a não ser o aumento de sua dependência aos Estados Unidos, e o red carpet fornecido a Shinzo Abe ajuda a justificar estes gastos adicionais que podem chegar a dezenas de bilhões de dólares, além dos esforços para a realocação de alguns investimentos, notadamente no setor automobilístico.