A Perplexidade Expressa no Editorial da Folha de S.Paulo
1 de março de 2017
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: a baixa da Selic não provoca a redução dos juros cobrados pelos bancos, situação de oligopólio, uso indevido do câmbio para redução da inflação | 2 Comentários »
Apesar da competência acadêmica dos atuais dirigentes do Banco Central do Brasil, com a sua exagerada crença nos mecanismos de mercado deixa de atender às necessidades do País, concentrando as atenções na recuperação dos bancos com volumosos créditos que já deveriam estar considerados em liquidação. Parece ser necessário maior pragmatismo pensando nos interesses da economia brasileira.
Em que pese à redução da taxa Selic que vem sendo promovida pelo Banco Central do Brasil, as informações dos bancos privados é que os juros cobrados das empresas e dos consumidores continuam se elevando, conforme editorial da Folha de S.Paulo
Tudo isto parece decorrer de dois aspectos fundamentais que não são convenientes para a economia brasileira: uma concentração exagerada nos bancos privados e a necessidade de elevar as suas rentabilidades para absorvem os créditos em liquidação que já deveriam estar registrados como prejuízos em suas contabilidades, notadamente nos seus empréstimos para empresas ligadas ao pré-sal como a Sete Brasil e a própria Petrobrás. Como a conveniência da economia deveria ser prioritária, apesar do desejo de manter as decisões no âmbito do setor privado, há momentos em que o pragmatismo recomenda a retomada dos empréstimos dos bancos estatais como o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e até do BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social para provocar um equilíbrio desejável, acompanhando a redução da taxa Selic, que é uma mera referência. Não se justifica que o Brasil continue a manter as mais elevadas taxas de juros do mundo.
De outro lado, o editorial da Folha de S.Paulo refere-se à redução das pressões inflacionárias pela recessão observada e aumento da oferta de alimentos, mas não se pode esquecer de que o câmbio continua mantido exageradamente valorizado, chegando até a prejudicar os exportadores que poderiam contribuir no aumento do emprego e recuperação da economia. Todos sabem que o câmbio não decorre do movimento das exportações e importações, mas é fortemente influenciado pelos fluxos financeiros internacionais que tiram partido dos juros elevados pagos no Brasil, como um movimento especulativo.
Se as autoridades monetárias continuarem a dar prioridades aos bancos com prejuízos para os que se dedicam ao aumento da produção e do emprego, todos sabem que a recuperação da economia brasileira será mais lenta e demorada. Acreditar que o mercado seja capaz de introduzir as correções parece até uma ingenuidade, como houvesse uma verdadeira concorrência neste setor fortemente oligopolizado. Os bancos têm usufruído de elevadas rentabilidades tanto nos períodos de expansão como de depressão, não sendo capazes de promover mudanças tecnológicas expressivas que provoquem o aumento da produtividade no setor produtivo, não somente no Brasil.
Como os bancos são poderosos e podem influenciar a mídia fornecendo a ilusão de que a economia brasileira está em franca recuperação, com as reformas que não estão esclarecidas devidamente nos seus importantes detalhes, as classes políticas acabam ficando com a impressão que tudo caminha muito bem. Todos gostariam que assim fosse, mas observam que aspectos fundamentais continuam apresentando, infelizmente, profundas lacunas que podem comprometer as atuais intenções governamentais.
Sem as correções das distorções atuais da economia, os brasileiros desempregados acabarão exigindo mudanças políticas, num governo em que já são constantes as mudanças de ministros, sem uma solidez necessária na base parlamentar, apesar do atual regime que exagera nas concessões para correntes políticas que só se concentram nos seus interesses grupais.
Muito bom Paulo, só falou verdades
Caro Mauricio,
Obrigado pelo comentário.
Paulo Yokota