Medidas Emergenciais Sobre as Carnes no Mercado Externo
24 de março de 2017
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: a situação dos mercados asiáticos, todos reconhecem que as declarações das autoridades brasileiras demandarão muito tempo para recuperar os mercados externos, uma avaliação feita pelo Nikkei Asian Review
Ainda que o assunto esteja em grande número de veículos de comunicação social de muitos países no mundo, o artigo publicado por Zach Coleman e Kim Jaewon no site do Nikkei Asian Review descreve o que está acontecendo com as empresas asiáticas que estavam trabalhando com produtos brasileiros de frangos, bovinos e suínos, fornecendo um quadro objetivo da atual situação.
O que as autoridades brasileiras estão fazendo parece insuficiente para recuperar a confiança das empresas asiáticas que trabalham com carnes de frangos, bovinos e suínos. A recuperação destes mercados parece que demandará muito tempo
No universo dos frigoríficos brasileiros, as autoridades brasileiras estão informando que no mínimo foram detectadas irregularidades e que o sistema brasileiro de inspeção sanitária é de alta eficiência. No entanto, parece conveniente que as autoridades dos países importadores dos produtos brasileiros fossem convidadas para acompanhar as inspeções que estão sendo estendidas para este universo, mostrando o sistema que está funcionando na prática e não nos meros discursos, cujo poder de convencimento para a reversão da situação parece pouco convincente.
O artigo no Nikkei Asian Review descreve os casos das empresas que arcaram com prejuízos, começando por Hong Kong e indo por Macau e a China Continental que estavam importando estes produtos e terão que voltar para alternativas locais ou importações de outros países. Os varejistas já retiraram o produto brasileiro das prateleiras, por precaução, pois a desconfiança dos consumidores é alta. Como se sabe, o risco da gripe aviária é elevado na Ásia e, como os bovinos são caros, há necessidade de se mudar para os suínos. Para estes varejistas voltarem a trabalhar com os produtos brasileiros haverá necessidade de muito tempo e trabalho objetivo mostrando que os riscos não existem.
Grandes redes de lojas que trabalhavam com estes produtos brasileiros também mudaram para outras opções, pois temem os riscos da rejeição dos consumidores. No ano passado, somente Hong Kong importou mais de 300 mil toneladas de carne bovina, sendo o segundo mercado brasileiro para carnes suínas. Macau se comporta como um mercado secundário de Hong Kong.
Na China, a importação do Brasil foi proibida para proteger eventualmente os consumidores chineses, como medida preventiva e provisória. As autoridades se dizem profundamente preocupadas com a questão da qualidade da carne. O Brasil tinha se tornado o principal fornecedor de carne bovina da China, substituindo a Austrália que fica na sua proximidade e possui uma pecuária de qualidade. A China importou 87.600 toneladas no ano passado.
As preocupações na Coreia do Sul também estão aumentando, com um produtor de nugget de frango do Brasil já parou a sua produção, ainda que temporariamente. A KFC que trabalhava com frango brasileiro deixou de fazê-lo, substituindo por produção local. Outras empresas locais que atuam em rede deixaram de fazê-los igualmente, como outros varejistas. 88,9% da importação de frango da Coreia do Sul era do Brasil.
Cingapura que importa do Brasil procurou descartas suas preocupações, mas intensificou a inspeção das importações. Os produtores asiáticos se mostram entusiasmados com as possibilidades de substituírem os fornecimentos brasileiros.
Outra medida que poderia ser anunciadas pelas autoridades brasileiras é que as designações dos inspetores brasileiros não teriam influências políticas, mas feitas por critérios técnicos, o que também ajudaria no aumento da confiança dos consumidores brasileiros.
Trata-se de uma emergência e o governo precisa ir muito alem do discurso, com medidas duras que ajudem a recuperação do prestígio, alem de convidar os representantes das entidades dos consumidores a acompanharem, nos frigoríficos, as inspeções mais rigorosas que estão se processando. É preciso que o governo haja com extrema prioridade, pois a pecuária brasileira, a suinocultura e a produção de frango são setores fundamentais para a economia brasileira, inclusive na criação do emprego e recuperação da mesma. É uma grave emergência.