Otimismo de Michel Temer Sobre a Economia Brasileira
2 de março de 2017
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias | Tags: é natural que o presidente seja otimista sobre a economia brasileira, há uma confusão sobre investimentos e recursos financeiros especulativos, todos procuram ser simpáticos nas conversas evitando aspectos espinhosos
Observando-se a entrevista do presidente Michel Temer (foto) concedida a Raymundo Costa e Rosângela Bittar do jornal Valor Econômico na última quarta-feira de cinzas, ele procura transmitir o otimismo com o que tem conseguido neste seu regime presidencialista parlamentar com muito diálogo com a sua base no Congresso, que cobra um preço alto pelas suas aprovações. Encara como tudo que vem obtendo estivesse acima das suas expectativas, esperando conseguir resultados melhores que os esperados, ignorando muitas críticas que vem recebendo.
É mais que natural o presidente procurar incutir otimismo na opinião pública, mas as medidas até agora aprovadas pelo Congresso mal são os primeiros passos, sem muitos detalhes para a execução dos projetos. Eles ainda necessitam de muitas decisões complementares que costumam ser difíceis na administração pública até chegar às suas execuções. As reformas, inclusive a da Previdência Social sendo aprovadas pela bancada situacionista, não resolvem as grandes dificuldades que existem com a discrepância dos tratamentos entre os trabalhadores mais modestos e as generosas aposentadorias concedidas para funcionários públicos do Legislativo e Judiciário, como funcionários das estatais. Existem ainda muito detalhes difíceis de serem obtidos para um sistema razoável para todos, cujos recursos continuarão deficitários e insuficientes para os que mal conseguem um salário mínimo, mesmo que se obtenha algum avanço.
Os projetos são mais fáceis de serem de aprovados no papel, que aceita tudo. O duro é executar as muitas difíceis tarefas para tornar uma realidade, como está se observando na transposição da água do São Francisco para atender às necessidades do Nordeste. Os parlamentares costumam imaginar que tudo está concluído quando há um acordo para a alocação dos recursos, sabendo-se que na maioria dos projetos os custos finais são sempre bem acima dos estimados inicialmente, com cronogramas mais longos do que os previstos.
Quando se acusa o governo de muitas irregularidades como no Bolsa Família e nos financiamentos das bolsas de estudo, os que nunca executaram estes programas imaginam que o seu controle é fácil quando existem políticos interessados em ficar com parte do que é destinado para estes programas. Lembro-me de um governador que exigia que um programa fosse executado por intermédio do seu Estado, para que uma parcela dos recursos fossem desviados pelas autoridades estaduais.
É fácil listar projetos que já teriam sido aprovados, o difícil será quando deles serão finalizados dentro do programado, sem que recursos adicionais sejam requisitados. Se as elevações de cotações como das ações em Bolsa significassem algo expressivo, a economia mundial já poderia estar recuperada, mas novas flutuações até para baixo podem ser esperadas, pela natureza das especulações.
Seria recomendável uma parcimônia nestas manifestações, pois todos sabem que somente poucos deles podem ser executados no curto espaço do seu mandato. É preciso transformar em realidade os projetos, o que é muito mais difícil do que fazer um discurso. Há necessidade de uma coesa equipe de tocadores de obras, quando no momento parece somente se contar com ministério que aparenta ser um mingau, com constantes mudanças das peças-chaves, o que gera mais dúvidas para os empresários privados que necessitam arriscar seus recursos em alguns projetos, dificultando suas decisões.
Não se pode contar com os fluxos financeiros especulativos que não criam fábricas, não geram nem emprego e nem produção. O governo já faria muito se não atrapalhasse tanto os que esperam cooperar com as necessidades da economia brasileira.