Tentando Entender os Problemas Sanitários das Carnes
17 de março de 2017
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias, Saúde | Tags: envolvimento de políticos nas fiscalizações, forte impacto das irregularidades apontadas nas fiscalizações dos frigoríficos, permissividade que está sendo lentamente restringida
Todos os problemas relacionados com os alimentos causam fortes impactos justificados tanto no Brasil como no exterior, pois podem afetar a saúde de todos. O grave problema de permissividade que já existia ampliou-se com a impunidade e designação de pessoal técnico da fiscalização pelos critérios político partidários.
Carimbos da fiscalização sanitária deveriam ser a garantia para os consumidores que estas carnes estão de conformidade com os critérios exigidos pelas autoridades
Ainda que aperfeiçoamentos na fiscalização sanitária no Brasil venham ocorrendo lentamente ao longo do tempo, há que se admitir que houvesse exageradas permissividades com relação aos critérios mais rigorosos já adotados em países mais desenvolvidos. Um exemplo seria o rastreamento das pastagens utilizadas com a garantia de que agrotóxicos não estejam contaminando o gado abatido, que se tornou factível mais recentemente. Mais grave é que os veterinários do Ministério da Agricultura estivessem morando nos frigoríficos onde atuavam, ficando sujeitos às facilidades oferecidas pelos seus responsáveis, como dependências melhores, alimentações e outras “ajudas” que os transformavam praticamente em seus empregados. Com o exagero do atual sistema presidencialista-parlamentar, os ministros e seus principais responsáveis passaram a ser nomeados por critérios político-partidários, sem que os interesses dos consumidores fossem colocados com a máxima prioridade. O desembaraço com que os dirigentes de frigoríficos cometem gravíssimas irregularidades, mostrando intimidades com autoridades, chega a ser aterrador.
Possivelmente o que até agora foi comprovado pelas investigações policiais são partes mínimas do que acontece em todo o setor, ao contrário do que afirmam as autoridades. Espera-se que estas irregularidades apontadas sejam exceções, mas pelo atual sistema existente as preocupações são de que podem estar mais generalizadas. As preocupações dos países importadores de produtos brasileiros do setor agropecuário já se expressam pela imprensa. Também no mercado interno os veículos de comunicação sociais expressam as grandes perplexidades, pois os consumidores, por mais que possam detectar os problemas mais graves, não contam com condições técnicas para separar o joio do trigo, sendo que o primeiro parece dominante.
O atual problema se soma a outros que dificultam as situações econômico-políticas por que passa o país. O governo, a partir do presidente da República e dos ministros que estão sendo envolvidos pelas investigações preliminares necessitam apressar-se urgentemente com pronunciamentos enfáticos, o que não pode ficar com o segundo escalão. Como sempre, desconfia-se que os principais responsáveis ficarão à margem, sendo que os subordinados devam arcar com as irregularidades. Isto em nada contribui para o aperfeiçoamento do sistema para evitar as dificuldades.
O que está sendo afetado não são as empresas e o governo, mas o Brasil, pois o país depende fortemente da exportação dos produtos agropecuários. Não se trata de um problema insignificante, mas vital para o país.