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A Inauguração do Japan House em São Paulo

30 de abril de 2017
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais e Notícias | Tags: importância do conteúdo das exposições, lembrando a Expo Tsukuba 85, o tema do bambu

Quando recebi, há algum tempo, a notícia que o Japan House ficaria num espaço limitado e alugado do Bradesco, na Avenida Paulista, fiquei preocupado com a sua modéstia. No entanto, quando observo que o tema da primeira exposição será o bambu, percebi que o seu conteúdo seria importante com uma nova visão do Japão no seu aspecto artístico.

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Fachada do Japan House na Avenida Paulista, em São Paulo

Quando o Japão realizou a Expo Tsukuba 85, os temas escolhidos, após avaliações profundas, foram o arroz e a produção do aço, que começou com a fabricação do katana, a espada utilizada pelos samurais. Eram dois aspectos fundamentais da cultura japonesa que utilizam o arroz não somente como a base fundamental de sua alimentação, mas a produção de vários produtos dele derivados, incluindo o saquê entre os mais conhecidos. A espetacular apresentação inaugural destacava também como os japoneses chegaram ao aço, com dobras seguidas do ferro em brasa, martelados, até chegar ao metal que era usado para produzirem os seus katanas de rara resistência e seus cortes impressionantes. Tive uma clara consciência da profundeza dos trabalhos que constituíam a base da cultura japonesa acumulada por séculos.

Quando fui informado que o bambu era o tema da abertura do Japan House em São Paulo, compreendi todo o significado de algo que talvez possa parecer banal e frágil para muitos, mas que influencia de forma significativa na cultura japonesa, desde o seu uso para a produção do hashi como muitos objetos que duram até por séculos, utilizados no cotidiano dos japoneses, como o leque e o guarda-chuva ou sombrinhas, para lembrar somente alguns. É claro que os objetos expostos nesta inauguração prevista para esta semana são artísticos, mostrando a versatilidade deste material fundamental para a vida dos japoneses.

Mas também me fez lembrar a importante lição de Oliveira Lima no seu livro de 1903, que fala do Japão onde ele trabalhava como diplomata antes mesmo do início da imigração japonesa ao Brasil em 1908. Ele destaca que o Japão encanta pelos seus aspectos positivos, mas com o transcorrer do tempo é possível também notar as suas misérias. Somente um balanço de ambas as visões podem proporcionar uma avaliação justa daquele país, seu povo e sua cultura. O relevante na sua contribuição é que ele tinha parâmetros para comparar o Japão, pois era um especialista sobre a Europa e os Impérios que lá existiam na época, objeto de sua contribuição mais importante.

Muitos grandes conhecedores do Japão, como Lafcardio Hearn e Wenceslau de Moraes, se tornaram tão admiradores do Japão que acabaram se tornando japoneses, mudando até os seus nomes. Estas avaliações tendem a apresentar vieses. Brasileiros envolvidos na avaliação do Japan House necessitam contar com o adequado equilíbrio utilizando parâmetros de outras culturas para que possam destacar adequadamente o que o Japão tem de bom, mas também de ruim, com evidente saldo positivo.