Controvérsias Sobre a Origem das Pimentas
3 de abril de 2017
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias, Gastronomia | Tags: comentário de Daniel Saito, falta de tempo para uma pesquisa mais completa, referências diversas
Entre os diversos assuntos sobre a Ásia que procuramos comentar neste site, é evidente que a rica culinária chinesa merece um destaque. Sobre as apimentadas, abundantes no Sul da China e países vizinhos do Sudeste Asiático, surgiu uma dúvida minha sobre a origem americana de uma pimenta (capsicum), que o cuidadoso leitor Daniel Saito assegurou ser daquela parte do mundo.
Foto de um exemplo de culinária apimentada de Sichuan
A dúvida surgiu porque Confúcio, que viveu entre 551 a 479 a.C., já fez referência à culinária apimentada, mas as publicações recentes do China Daily referem-se que a Rota da Seda favoreceu a ida da Europa das contribuições como a dos portugueses da pimenta de origem americana (entre elas, a capsicum, da qual nós conhecemos algumas como dedo de moça), nos séculos XV e XVI. Deve-se lembrar de que na Ásia, desde a antiguidade, se utilizava diversos condimentos para preservar alimentos e possivelmente a pimenta do reino que a Índia forneceu para a Europa. Mas há também o gengibre e outros produtos que acabam apimentando muitos pratos da culinária do Sul da China, antes da chegada da contribuição americana.
Deve-se lembrar de que também uma grande frota de chineses esteve no início do século XV no Atlântico e no Pacífico, antes mesmo de Cristovão Colombo e dos portugueses, tendo deixado um marco no México, onde devem ter experimentado a pimenta local. Eles deixaram mapas dos dois oceanos que vi numa exposição no Japão, que possivelmente eram de conhecimentos dos navegantes europeus que se aventuraram pelo Atlântico.
Mas, por experiência própria, os alimentos mais apimentados que encontrei foram na Malásia e na Tailândia, na fronteira com a China, onde dos diversos pratos encomendados num restaurante típico da região não consegui com a minha família apreciar nenhum, pois deixava a boca como se fosse em fogo, não havendo o que a neutralizasse por cerca de uma hora. Os pratos que experimentei na China ou no México não eram tão fortes, mesmo sendo mais forte que os da Bahia.
Num restaurante em Salvador, na Bahia, como tínhamos convidados da Malásia, eu pedi que providenciassem as pimentas mais fortes que tínhamos e para meu espanto eles comiam somente estas pimentas como se fossem uma simples salada, achando-as muito fracas.
Portanto, acho que o leitor Daniel Saito deve ter razão quando afirma que algumas pimentas foram das Américas para a Europa e de lá para a Ásia, pois os asiáticos utilizavam antes outros tipos de condimentos que tornavam as culinárias locais quentes.