Difíceis Dificuldades Políticas do Governo
19 de abril de 2017
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: parlamentares preocupados com suas carreiras, problemas para a aprovação da reforma trabalhista e da previdência social, sinais preocupantes no Congresso
O jornal Valor Econômico divulga o atual estado de ânimo dos parlamentares com o governo Michel Temer que esperavam tivesse a missão de estancar a sangria provocada pelo Lava Jato, mas não consegue atender aos interesses dos políticos. Assim, continuam sendo sofrendo críticas do Judiciário e da opinião pública, sem condições de aprovar medidas que são consideradas impopulares.
Congresso Nacional com dificuldades para aprovar medidas como as reformas trabalhistas e previdenciárias consideradas impopulares, com as críticas que vem recebendo do Judiciário e da opinião publica
Ainda que o governo Michel Temer alegue ter uma base parlamentar sólida para aprovar as medidas necessárias de reformas fundamentais, acumulam-se as insatisfações que não facilitam a tramitação da reforma trabalhista como a previdenciária, ambas mal colocadas. Ontem, em Brasília, não se obteve o número indispensável para a urgência na tramitação da reforma trabalhista.
Um artigo elaborado por Raymundo Costa, Marcelo Ribeiro e Raphael Di Cunto, publicado no Valor Econômico, informa que parte do Congresso interpreta que o governo Michel Temer teria a missão de afastar a sangria que vem sendo promovida pelo Lava Jato, o que não consegue. Ao mesmo tempo vem exigindo que façam sacrifícios para aprovação das medidas impopulares como as atuais reformas trabalhistas, que muitos interpretam reduzir as garantias dos trabalhadores. Ou da previdência social que não consegue reduzir o substancial disparate entre as aposentadorias de alguns funcionários públicos, inclusive parlamentares, enquanto os trabalhadores mais modestos ficam sujeitos a sacrifícios maiores.
É natural que os parlamentares se sintam pressionados pelos seus eleitores, notando que nas próximas eleições muitos não terão condições de serem reeleitos. Se aprovarem muitas medidas que, mesmo necessárias, sejam impopulares, ficarão mais sujeitos à interrupção de suas carreiras, sem que o executivo consiga reduzir as pressões do Judiciário com a Lava Jato. Mesmo com a intensa publicidade do governo afirmando que estas reformas são indispensáveis a longo prazo, é compreensível que os parlamentares se preocupem com as próximas eleições.
Ainda que o governo Michel Temer esteja consciente destas dificuldades, mesmo os ministros apontados nos inquéritos na Lava Jato também se sentem inseguros, havendo até os que gostariam de deixar o atual barco do governo. Mesmo que existam muitas incertezas, os políticos sabem que alguns deles acabarão sendo condenados, apesar do decurso de muitos anos de tramitação dos seus processos.
Há que se compreender também que as atuais dificuldades decorrem de delações feitas pelos antigos dirigentes da Odebrecht, havendo possibilidade de que outras delações que estão sendo preparadas ampliem o número de indicados para inquéritos que serão acrescentados. Se o Brasil adotasse um regime parlamentarista como o atual governo deseja, o natural seria a dissolução do Congresso e convocação de novas eleições para ajustamento dos anseios da população com o quadro de parlamentares. Mas, nem mesmo nos casos mais claros, os políticos não se dispõem a se despirem das proteções que pensam dispor. Com isto, corre-se o risco de aprofundar a crise que abala o país, lamentavelmente.
O que poderia se assegurar seriam reformas melhor elaboradas, mas o atual governo não parece dispor de equipes para tanto, ficando somente nos aspectos mais superficiais que não atendem os anseios da população. Muitos entendem que os políticos já gozam de privilégios exagerados enquanto os mais modestos cidadãos arcam com as consequências. A diferença absurda na previdência social é um caso, que o governo nem sequer menciona.
Ainda que o setor privado necessite de meios mais flexíveis na legislação trabalhista, fica claro que quando a economia estiver em situação adversa, haverá maior facilidade para a dispensa dos trabalhadores. Ao mesmo tempo, o sistema financeiro responsável por parte dos desequilíbrios, continua contando com os privilégios para absorvem os prejuízos de empréstimos mal feitos.
Mesmo que a opinião pública não esteja informada de todos os detalhes técnicos das reformas indispensáveis, percebem que terão que arcar com muitos sacrifícios, enquanto os políticos continuam gozando de privilégios. Não parece que algo desta natureza acabe sendo aprovado, por mais intensa que seja a pressão do governo.